Devas os mensageiros

I – Premonição


A mulher embalava-se na antiga cadeira de balanço do terraço. Dali contemplava a multidão de luzes fugidas das janelas das casas e dos prédios ao redor. Mesmo entre tantas luzes podia admirar as estrelas. O olhar distante acendeu a nostalgia que lhe trouxe lembranças de velhas histórias.
Por um instante parou de balançar, levantou-se cantarolando uma canção antiga e caminhou em direção a uma sala, enfeitada com potes de ervas, flores, incensos sobre as prateleiras e mensageiro do vento pendurado. Sentou-se junto à antiga mesa que se projetava do tronco de um carvalho vetusto. Nela repousava o antigo livro de capa vermelha aveludada, empoeirado. Ela o limpou espalhando a poeira no ar, revelando os desenhos dourados dos símbolos Deva. Abrindo-o na primeira página preparou-se para escrever:

Hoje completo 30 anos. Na terra mágica há que também pertenço um ciclo completo de lua, equivale a sete anos dos humanos. Contudo, me é impossível deixar para trás ou esquecer ensinamentos e amizades que fiz durante essa existência, o mais importante do meu aprendizado foi descobrir que sou apenas uma partícula da criação, mas que no meu DNA estão gravadas todas as informações necessárias para vencer basta querer acessá-las. Compreendi ainda, que mais importante do que atingir um objetivo importa a forma escolhida para atingi-lo. Assimilei que tenho uma missão que deve ser cumprida e que não estou só, pois há milhares, como eu.
Nasci em Belmont, cidadezinha cercada por montanhas, na qual quase todos se conhecem. Até que completasse seis anos de idade, vivi normalmente com minha família, meu pai Julius e minha mãe Maria. Porém, sempre tive visões de coisas que estão por acontecer, mas como era só uma criança não tinha idéia do que realmente acontecia comigo.                                                                                                           
A primeira vez que senti medo de uma visão foi quando mamãe e eu estávamos passando no caixa de um supermercado. Tive uma sensação estranha, olhei para a rua e vi uma placa gigante cair em cima de um automóvel. Chamei minha mãe diversas vezes puxei sua saia, contudo, antes que ela me atendesse, um estrondo veio da rua e todos olharam assustados: a placa havia caído. No carro, voltando para casa, fiquei pensativa e mamãe passou a conversar comigo:
           – Está pensando no acidente? Ninguém se machucou!
Mesmo sabendo disso chorei. Ela parou o carro e segurou minha mão enquanto com a outra alisava meus cabelos:
– O que está acontecendo?
Expliquei que minutos antes de acontecer o acidente em frente ao mercado, eu já o havia previsto, e não sabia o que estava acontecendo comigo. Ainda lembro o jeito doce com que ela me olhou.   
Chegando a casa, mamãe me pediu que subisse para meu quarto. Em seguida, ligou para meu pai pedindo que chegasse mais cedo. Antes do anoitecer meu pai chegou do trabalho, e assim que sentou no sofá para relaxar, mamãe aproveitou para conversar com ele, eu estava no quarto, terminando de arrumar alguns brinquedos. Olhei da janela e vi o carro de meu pai estacionado em frente a casa. Desci correndo as escadas para abraçá-lo, mas antes de entrar na sala ouvi que estavam falando sobre mim. Então sentei quietinha no corredor e escutei cada palavra da conversa. Haviam me visto várias vezes conversando sozinha, caminhando e falando enquanto dormia e que seria melhor que tivesse um acompanhamento médico; e poderia estar com problemas.


  
II - FIO DE PRATA

Alguns dias depois...

Meus pais fizeram uma festinha para comemorar meu aniversário de sete anos. Foi no quintal da nossa casa havia vários enfeites coloridos e vieram alguns colegas de escola. Cantamos parabéns e teve um palhaço muito divertido chamado piuí que fez brincadeiras engraçadas. Meu pai filmava tudo enquanto brincávamos de vendar os olhos e, com um bastão de madeira, tentávamos acertar o saco de surpresas preso ao galho de uma árvore. Meu colega bateu o bastão no galho, que balançou fazendo um ninho cair ao chão. No ninho havia um pássaro pequeno, parecia muito machucado, nem se mexia o bichinho. Peguei-o entre as mãos e, em alguns minutos, ele começou a se mexer como se quisesse sair dali. Quando abri as mãos, ele voou, todos da festa ficaram impressionados.
Nessa época apareceu uma mancha no meu punho direito, a cada dia ficava mais visível, sempre que podia a esfregava, mas a mancha não saía. Todas as manhãs, mamãe preparava meu lanche e o deixava em cima da mesa. Eu o pegava, dava um ligeiro beijo de adeus em mamãe e corria para tomar o ônibus escolar que passava em frente a minha casa. Mas nesse bendito dia, estava com tanta pressa que só a beijei e corri em direção ao ônibus que buzinava. Mamãe vendo o lanche na mesa o pegou e correu atrás de mim:
– Sam, seu lanche!
Ouvindo o seu chamado, voltei imediatamente. Estendi o braço e segurei o lanche, foi quando mamãe viu a mancha, segurou minha mão puxando-a para ver melhor:
– O que é isso?
– Não é nada, mãe! – O ônibus buzinou novamente.           
– Tenho que ir! Tchau.
Beijei-a novamente, puxei a mão que segurava o lanche, e corri novamente para o ônibus buzinante.
            Na escola, apesar de algumas meninas me olharem estranho, fazerem brincadeiras de mau gosto comigo, nunca me importei! Sentia-me diferente, e depois do incidente na escola tive certeza disso.
Certa vez, estava tão furiosa com grupinho de meninas que implicavam diariamente comigo que as olhei fixamente, quando de repente a cadeira de uma delas quebrou. Todos colegas riram. Nesse incrível dia me senti muito poderosa, apesar de ficar pensando: Será que fui eu?      
Quando retornei para casa, após a escola, estava acontecendo uma reunião de família, o comentário era sobre a saúde de vovó Clara. Mamãe me recebeu com um beijo e me pediu que fosse para o quarto e fizesse o meu dever. Subi as escadas, entrei no quarto, fui direto tirando meu caderno da mochila e colocando-o sobre a escrivaninha junto à janela. Sentei, podia ver as belas colinas cobertas de flores e árvores gigantescas que me fascinavam, fazendo com que ignorasse meu dever. Quanto mais olhava, mais me sentia atraída. Avistei um vendaval que emitia sons que ecoavam em minha cabeça, parecendo música. Fiquei ouvindo a música, aos poucos a melodia ficou mais nítida. A porta do quarto se abriu e mamãe entrou segurando um cesto de roupas dobradas para guardar na cômoda, e disse:
– Amanhã iremos visitar a vovó no hospital.
Por alguns instantes ela parou de guardar as roupas e me olhou:
– O que você tanto olha pela janela?
 Por um gesto pedi silêncio.
– Xiii! Quero ouvir a música!
 Mamãe aproximou-se da janela olhando também em direção aos montes:
– Que música, Sam?
Sem retirar os olhos dos montes, apontando com o indicador:
– A música vinda das montanhas, olha o vendaval?
Mamãe ficou calada. Quando olhei para trás ela já havia saído do quarto. Após algum tempo a porta do quarto foi aberta novamente. Desta vez recebi só uma ordem: – Vá para o banho mocinha! Depois, desça para jantar.
Na hora de dormir não conseguia parar de cantarolar a canção dos montes, não saía da minha cabeça. Quando comecei a dormir senti meu corpo leve, pude ver minha essência levitar ao lado do meu corpo. Dancei ao som da música, enquanto o fio prateado que ligava meu corpo a minha essência se esticava. Fui à janela, senti vontade de voar. Olhei para baixo, mas não consegui ir adiante, com medo de que o fiozinho se rompesse. Fiquei parada em frente à janela. A porta se abriu novamente, me provocando um susto que fez minha essência voltar súbito para meu corpo físico, que continuava dormindo, mas eu estava acordada de forma diferente. Pude sentir e ver o beijo carinhoso que recebi de boa noite. Era de meu pai.  Enfim adormeceu minha essência.
No dia seguinte minha vida continuou normalmente. No ônibus em direção à escola pensei no sonho que tive à noite, eu estava em um lugar maravilhoso, onde tudo era azul celeste, um céu mesmo de nuvens azuis. Havia um garotinho e nós brincávamos de dar pulos sobre as nuvens. Eu o sentia como se ele fosse meu melhor... Não sei explicar. Ele me olhava com ternura. Enquanto brincávamos, uma grande bolha se aproximou e o envolveu. Segurei sua mão, pedi para que não fosse, mas foi inútil, não consegui segurá-lo,  enquanto ele gritava:
–Tikva, Tikva! – A bolha subiu aos céus até desaparecer. Experimentei a palavra impotente pela primeira vez e, sentindo sua falta, chorei!
Após a escola, voltei para casa e, depois, fomos visitar vovó no hospital. Entramos no quarto e a encontramos dormindo: parecia um anjo. Mamãe chorava baixinho enquanto o médico falava sobre a saúde da vovó. Aproveitei o instante em que eles conversavam e fui até a vovó. Segurei-lhe a mão e lembrei quando ajoelhadas, aos pés da cama, vovó Clara me ensinava:
Junte as mãozinhas e repita comigo: “minha boquinha somente fale coisas alegres e nunca magoa ninguém. Que eu possa aconselhar aqueles que cruzem o meu caminho, e que meus olhos vejam sempre o bem de cada um dos meus irmãos. E que minhas mãos alcancem o pão ao necessitado, que meus pés estejam sempre nos caminhos do bem para me levarem mais próximo de Deus!” – Nesse momento, uma força estranha saiu de minhas mãos passando para as mãos da vovó. Mamãe, sem reparar nada, se aproximou e deu um beijo de adeus na vovó, e disse:
– Vamos, Sam!
Soltei a mão da vovó Clara e a beijei. 
O tempo foi passando, fui crescendo e descobrindo que podia fazer mais coisas e, toda vez que essa força saía de mim, o sinal parecia mudar de forma e ficava mais escuro. Às vezes, sem os outros perceberem, eu ajudava as pessoas. Durante algum tempo cessou a música vinda da montanha, meus pais não pareciam mais tão preocupados comigo, mas eu ainda tinha fascínio pelas montanhas e desejo de um dia ir até elas.




III – desdobramento


Em uma determinada noite, ao deitar, relaxei me concentrando nos montes. Ouvi novamente a música e senti meu corpo flutuar. Minha essência estava fora de mim. Fiz piruetas no ar e o fiozinho prateado esticava e não se enrolava. Então tomei coragem e fui à janela, que estava aberta. Dessa vez, sem medo, flutuei como um pássaro. A sensação era de pura liberdade. Sobrevoei a cidadezinha vendo as pessoas passeando pelas praças, os carros estacionados nas ruas. Mas a canção vinda dos montes me atraía mais e mais. Fui pairando no ar em direção àquele som vindo do monte. A lua cheia exibia os animais em campo aberto, fazendo-os parecerem pequenos pontos no chão. Árvores imensas não passavam de pequenas plantinhas. Sobrevoei o lago e o imenso bosque que cobria as colinas. A música, aos poucos, começou a se misturar com barulho de festa. Do alto, avistei uma fogueira e outros pequenos pontos de fogo; aproximei-me mais, vi um grupo de pessoas rindo e brincando, todos pareciam muito animados. Era tudo completamente diferente do que eu já havia visto. Hesitei em descer, mas não resisti à curiosidade e, certamente, não seria notada em meio a tantas diferenças. Desci, tive a certeza de que era uma grande festa, iluminada por uma grande fogueira. Algumas lindas mulheres de olhos expressivos que vestiam mantos negro, marrom, amarelo e azul. Algumas tinham cabelos longos e cacheados, outras, cabelos lisos, louros, negros ou cor de fogo igual aos meus, e estavam enfeitados com flores. Giravam com elegância ao redor do fogo, dançavam com homens pequeninos, muito sorridentes e felizes de narizes grandes, queixos pontudos, pernas cambotas, e sapatinhos pontiagudos marrons. Tinha outros homens mais altos, magos e gordos com roupas rústicas coloridas com vários dos tons das cores do arco-íris. Mais adiante uma incrível fonte que jorrava água, formando um chafariz, em cuja água também havia seres elementais se banhando. No meio de tanta magia e de seres diferentes, um senhor de idade avançada, cabelos brancos e pequenos olhos expressivos que transmitiam bondade e sabedoria. Esse senhor vestia uma capa comprida branca que cobria grande parte de seu corpo.  E assim que viu a menina, aproximou-se:
– Você é...!Sam! Seja bem-vinda a Cracia.
– O que é Cracia? Como o senhor me conhece?
– Cracia é o nome dessa cidade, a cidade dos Elementais, pertence ao Reino Malkuth. Eu conheço todos moradores do vale a léguas daqui. Meu nome é Arquia, sou conselheiro dessa cidade. –Um homenzinho de aproximadamente 60 centímetros se aproximou apressado:
– Está na hora, conselheiro!
– Os demais conselheiros? – Indagou Arquia.
– Já foram todos convocados! Vamos! – O duende ansioso puxava o mestre pela mão.
– Só um instante! Já estou indo! – Disse Arquia, e virando-se para Sam a pediu que o esperasse. Então, seguiu mestre e duende até as escadas esculpidas em uma gigantesca pedra utilizada como palanque, enfeitada com flores, além de dois vasos de um metro de altura, de cada lado.
Arquia subiu a escada, acompanhado por Leonel, representante do clã de Silbury (terra). Chegando ao topo do palanque, Leonel se juntou a Emigno, representante do clã de Anasazzi (fogo), que estava acompanhado de Satiros Shiva e Salamandra Enila. Arquia foi à frente do palanque, posicionando-se entre os dois vasos, ergueu as mãos:
– Elementais, um minuto de sua atenção! – Os convidados da festa imediatamente fizeram silêncio, dando atenção ao ancião:
– Procuramos o melhoramento moral e espiritual, através do chokma, e desejamos que todos que estão em torpor, que um dia despertem e possam ser e estar como os irmãos do plano Nirmanakayas. Para isso, é necessário trabalho árduo e dedicação extrema, a fim de atingir a purificação, a humildade, à serenidade, o desprendimento, o respeito, a fraternidade e, por fim, a lealdade. Hoje, dois Elementais, Sátiros Shiva e Salamandra Enila, passarão pela prova da purificação. – Arquia acenou aos duendes solicitando que preparassem a prova.
Rapidamente, os pequenos duendes encheram os dois vasos com água.
– Pronto!Mestre. – Logo se retiraram.
– Shiva, prossiga o ritual! – Disse Arquia.
Shiva andou em direção ao vaso que estava  do lado esquerdo do palanque, se posicionou e mergulhou as mãos no vaso de água e, assim que as tirou, a água tornou-se fogo, reluzindo chamas azuis. Shiva, emocionado, lacrimejou retornando para junto de Enila, abraçando-a. Em seguida, Shiva recebeu os cumprimentos de Leonel, representante do clã de Silbury:
– Bem vindo ao seu clã de origem, Shiva! – Proferiu Leonel muito satisfeito.
Então, Arquia fitou Enila avisando-a ser a próxima,  e a incentivou com pequenos gestos, encorajando a salamandra, vacilante, a prosseguir até o vaso, onde mergulhou as mãos na água e logo as retirou. Apreensiva e triste esperou a resposta, em poucos instantes a água tornou-se fogo com chamas douradas. Enila respirou aliviada, mas com pesar, abraçou seu pai, Emigno, representante do clã de Anasazzi, que lhe retribuiu o abraço confirmando as boas-vindas ao seu clã de origem.

Nesse instante, Arquia, mesmo calado, não escondia o contentamento de ver dois Elementais tão queridos vencerem suas adversidades morais. Sua alegria se expandiu através dos pequenos olhos, enquanto pensava no quão importante era o ritual de troca de mantos. Dara e Nillom, dois duendes ajudantes de Arquia nas solenidades, ajudaram Sátiros Shiva a retirar o manto negro e vestir o manto azul-claro, representando a aquisição do domínio e lucidez sobre as escolhas do caminho a percorrer; na seqüência, ajudaram a Salamandra Enila a retirar o manto marrom e vestir o novo manto amarelo-ouro, que significava aquisição de valores e virtudes, ainda incompreensíveis para alguns, mas de valores incomensuráveis.
Após os cumprimentos, inúmeros duendes paparicavam Enila e a Shiva, oferecendo-se para trabalhar junto a eles.
Arquia novamente se dirigiu frente ao palanque:
– A solenidade de troca de manto esta concluída. Divirtam-se! – Dito isso desceu as escadas do palanque e sentou-se ao lado de Sam, próximo às labaredas.  Ninfas do fogo dançavam ao barulho da música. Sam e Arquia cantavam e batiam palmas, enquanto assistiam a exibição da dança das ninfas. Uma linda Elemental com longos cabelos mechados e encaracolados puxou Sam para dançar. A menina mesmo arredia não rejeitou ao convite e as duas dançaram. Sam se sentiu como nunca, uma felicidade indescritível. Após várias músicas, ela cansou e foi se sentar novamente ao lado de Arquia, cuja fisionomia estampava certa preocupação. Um homem de andar cabisbaixo coberto por uma capa e com um capuz a lhe cobrir o rosto aproximou-se do velho ancião e sussurrou algumas palavras ao seu ouvido:
– Eles os observam insatisfeitos.   – Disse o homem.
– Eu posso senti-los. – Respondeu Arquia, e seu tom de voz entregava o receio.
 O homem misterioso afastou-se e partiu em direção ao bosque, enquanto Arquia espreitava a distância, como se procurasse algo escondido na mata.
 Algumas crianças Elementais encabuladas observavam Sam a distancia interessadas em saber quem era aquela estranha. Faziam graça e estripulias que chamavam a atenção de Sam, fazendo-a rir. Alguns homenzinhos se escondiam uns dos outros, brincavam o tempo todo. Passou uma jovem Elemental com grandes orelhas pontudas a segurarem-lhe os cabelos, oferecendo petiscos variados que trazia sobre a bandeja, alguns deles com aspecto gosmento, outros mais se pareciam com olhos. Sam nunca havia experimentado tais iguarias, mas fechou os olhos e degustou quase todas. O tempo foi passando e com todo aquele movimento ao seu redor, aos poucos a menina sentiu o cansaço, os olhos começaram a pesar toneladas, o sono a deixá-la zonza, nem mesmo a música alta impediu que adormecesse lentamente. Arquia gentilmente a carregou no colo, levando-a para o templo central, e antes que lá chegasse, Sam caiu em sono profundo. No dia seguinte, ao acordar:
– Que sonho louco! – Disse se espreguiçando.
Abriu os olhos e percebeu que não estava em casa, à cama parecia flutuar. Rolou para o lado esquerdo, ficando de bruços, olhou para baixo e viu o chão distante. Constatou que a cama era feita de macias almofadas flutuantes, rolou para o outro lado da cama, ficando novamente de bruços, olhou para baixo e o chão continuava distante:
– Puxa! Como eu vou descer daqui?  Voltou a ficar de barriga para cima enquanto pensava em voz alta:
– Dormi nas nuvens! Só posso estar sonhando! – Ela fechou os olhos:
– Eu quero acordar! Eu quero acordar! – Abriu os olhos e sentou-se. Nesse instante, a cama baixou. Ela se deitou de novo, a cama de almofadas flutuou novamente. Não demorou muito para Sam compreender o funcionamento da cama flutuante. Sentou-se novamente, a cama baixou, colocou as pernas para baixo e seus pés tocaram o chão.
Sam ficou sentada por alguns instantes admirando o lugar de cômodos claros. Do topo das paredes minavam pequenas quantidades de água, onde a luz refletia-se por todo ambiente formando raios coloridos como os do arco-íris. Havia vários Elementais transitando. A menina lembrou-se do amigo ancião que conhecera no dia anterior. Levantou-se e foi à procura do amigo. Ao longo de um amplo corredor, encontrou uma grande porta entreaberta. Era justamente a do salão principal. Ela a empurrou para ver se o velho amigo estava ali, mas não o encontrou. O salão lhe despertou a atenção. Sem poder resistir à curiosidade, decidiu entrar para observar melhor. Havia 12 cadeiras ao redor de uma mesa em forma de olho e, acima dela, planetas circulando ao redor de um globo flutuante. Sam ergueu a mão em direção ao globo, mas sua mão o transpassou, o que a deixou espantada. De repente, surpreendeu-se com os desenhos acima de uma das cadeiras que estava atrás do globo a sua frente, fixou os olhos no símbolo e pensou: conheço esse desenho.
Enquanto matutava as lembranças de onde e quando havia visto o desenho, continuou a observar o restante dos símbolos acima das outras cadeiras, que representavam os elementos terra, água, ar e fogo. Os olhos de Sam percorreram o teto. Estava tão encantada pelos símbolos que seu pensamento retrocedeu no tempo, (“estava no colo de um ancião, que lhe mostrava desenhos iguais aos símbolos das paredes e do teto”), quando uma voz vinda do corredor despertou-a de suas lembranças. Imediatamente, fitou o corredor tendo a nítida impressão de que era o velho amigo que passara. Ela correu em direção à porta do salão e olhou ao longo do corredor, constatando que era mesmo o ancião. Já distante alguns passos na frente, acompanhado de dois Elementais de aparência nada agradável.
Sam os seguiu na expectativa de falar com o velho amigo que  parecia não apreciar a companhia daqueles Elementais
que o escoltavam enquanto discutiam em alto tom sobre a presença de um humano na aldeia. No final do corredor, eles entraram em uma das portas, deixando-a entreaberta. A menina aproximou-se da porta aguardando que saíssem. Enquanto esperava, a conversa ficou intensa, instigando a curiosidade da menina, que espreitou pela fresta da porta. Lá dentro um dos Elementais: chamava-se Seth, alto e magro, aparentando meia-idade, cabelos lisos e longos na altura dos ombros, mas de caráter fraco, pois parecia ser controlado pelo outro Elemental: conhecido como Miso, de corpo franzino um tanto mais baixo, e mais jovem.
– Nós, mestres da magia da escuridão, nunca podemos sequer nos aproximar dos humanos. Por que isso agora? –Disse Miso de fala bastante atormentada. Avançando em direção a Arquia que era compelindo a recuar alguns passos.
– Não permitiremos um humano em nossa aldeia. Isso infringiu nossas leis! – Argumentou Seth contagiado pela fúria de Miso.
– A pessoa em questão faz parte do nosso mundo! – Relatou Arquia na tentativa de explicar. – Deixando o tenebroso Miso ainda mais irritado:
– Assim como os Grays, Dracons Reptilianos!      :
– Não! Eles não são do nosso mundo! E vocês já foram convocados para a reunião! O conselho decidirá! – Proferiu Arquia, não queria debater sobre o assunto.
A menina sem querer esbarrou na porta, chamando a atenção de Arquia que a viu espreitando. Para protegê-la dos malfeitores, ele fez um movimento com a mão e a porta se fechou. A menina sentiu que era um sinal para que saísse, pois a reunião demoraria. Com a porta fechada, não podendo espreitar nada, ela retornou ao salão principal, circulou entre as cadeiras e continuou a observar os desenhos nas paredes, fascinada com os símbolos do teto que o faziam parecer um céu estrelado. Cansada, parou de caminhar e sentou-se em uma das cadeiras. Começou, então, a cantarolar uma melodia. O olho do Circulum do centro da mesa se abriu, e Sam percebeu que algo se mexeu à sua frente. Desviou os olhos do teto, olhando diretamente para o olho do centro da mesa que a encarava. Então, parou de cantarolar, virou o corpo para a direita e o olho da mesa a acompanhou. Virou-se para o lado esquerdo, e foi novamente seguida pelo olho. Um nevoeiro aos poucos tomou conta do salão, cobrindo a visão da menina que levantou sorrateiramente da cadeira. Só conseguia ouvir a própria respiração e as batidas de seu coração. Vagarosamente, de pé em pé, atravessou o salão tateou as paredes, até encontrar a porta. Quando a encontrou, abriu-a e, finalmente, saiu correndo. A porta fechou-se. Sam correu o máximo que pôde, e sem querer colidiu com um homem, que a segurou impedindo-a de cair no chão. Ela ergueu a cabeça para agradecer. Estava diante de um homem enorme, devia ter uns dois metros e quarenta, ela o encarou de baixo:
– Ah! Desculpe-me! – Perplexa com a altura do homem. De Súbito o homem tirou as mãos dos ombros da menina:
– Acalme-se! Não corra mais, você pode se machucar. – aconselhou o bravo homem.
Nesse instante, se aproximaram os dois homens que conversavam com Arquia, ao vê-los a menina apreensiva esquivou-se se escondendo atrás do bravo homem, enquanto ele os cumprimentou ao passarem:
            – Seth, Miso.
Eles nada responderam. Logo em seguida, Arquia se aproximou:
– Já vi que se conheceram. Professor Acro  essa linda menina... – Antes que Arquia terminasse a frase, o bom humorado professor complementou: – Já sei! Esta é Sam.
Sam, confiante pela presença de Arquia, nem esperou as apresentações e já saiu perguntando:
– Professor de quê?
Antes que o professor pudesse responder, a aproximação inesperada de uma mulher Elemental de pele delicada, roupa esvoaçante e cabelos longos, denunciando um semblante preocupado que intensificava as chamas de seus expressivos olhos, e interrompeu a conversa:
– Grande Mestre, daqui um quarto de hora o conselho o aguarda no salão de reuniões.
Arquia virou-se para a pequena menina e disse:
– Mais tarde responderei às suas perguntas. Vá conhecer a cidade. É só seguir até o final deste corredor – Arquia voltou sua atenção para a mulher:
– Sinto preocupação em você, Amiel!
– Essa negatividade de Miso e Seth. – Expressou Amiel, preocupada.
 – Mas veremos o que o conselho decidirá. Vamos, professor. – Disse Arquia preocupado.
            – Aproveito o tempinho antes da reunião para conversarmos. – respondeu Acro, animado.
– Você não ficará para reunião? – Indagou Arquia.
– Não! Hoje sou mentor na escola. – Explicou Acro, os três seguiram conversando em direção à sala de reuniões. Até Acro parar e virar-se para trás, dizendo a menina:
– Sam! – A menina imediatamente atendeu o chamado olhando para trás. E continuou o professor: – Se encontrar as crianças as acompanhe. – Virou-se e seguiu com Arquia e Amiel rumo ao salão de reuniões.
A menina inconformada seguiu pelo corredor na direção indicada, mas sua curiosidade, a fez dar meia-volta e seguir o ancião. Arquia aproximando-se da porta do salão movimentou as mãos fazendo-a abrir, entrando Acro, Amiel, e Arquia. A porta fechou-se, vagarosamente. A menina se apressou em entrar, mas não conseguiu, pois a porta fechou-se batendo na pontinha do seu nariz:
– Ah! – exclamou Sam, esfregando a ponta do nariz. Então, encarou a porta e com firmeza imitou os movimentos das mãos de Arquia. Nada aconteceu, mas insistiu, encarando-a de várias maneiras enquanto mexia as mãos, até surgir no centro da porta o relevo de um rosto, causando-lhe um tremendo susto, que quase a fez cair para trás. O relevo disse:
– Você foi convocada para a reunião?
 Sam, surpresa e temerosa, respondeu:
– Não! – A menina entendeu que não deveria tentar entrar. Sendo assim, achou melhor seguir o conselho de Arquia, e foi conhecer a cidade.
Enquanto isso, Arquia e Acro conversavam no salão principal aguardando a chegada dos demais representantes. Logo veio Notus acompanhado por Aradia, sua conselheira, do (templo de Ruach) clã do ar; em seguida, o representante ancião Leonel acompanhado pela conselheira Taranis, do (templo Silbury) clã da terra,. Logo após chegaram o representante Nut e o conselheiro Simei, do (templo Glastambury), clã das águas, e o ancião Emigno com o conselheiro Nazih, do (templo de Anasazzi) clã do fogo. Todos os reunidos sentaram-se em seus respectivos lugares ao redor do oráculo, o Circulum que tudo vê. Por fim, chegaram os últimos participantes do conselho, o mago da noite, o Gram. Mir Seth, e Miso seu conselheiro (ambos do templo de Belial). Acro, mediante a presença de todos, despediu-se do conselho:
– Devo ir! Até mais!
Arquia deu, então, início à reunião:
– Estamos todos reunidos com um único propósito de cuidar dos interesses de Cracia, coloco perante o conselho a seguinte questão: a permissão de permanência da menina na cidade.
Seth foi o primeiro a se manifestar:
– Não podemos receber um humano em nossa aldeia, isso equivale a desrespeitarmos nossas próprias leis. Eles contaminam, degradam tudo que tocam, e definitivamente não é harmonioso nos relacionarmos com eles.
Arquia, após as argumentações do intolerante representante de Belial, argumentou perante o conselho:
 – Este humano em questão, chegou aqui no dia da festa de troca de manto e possuiu a essência de um Elemental.
Miso, indignado com os argumentos da defesa, levantou intempestivo da cadeira, desafiando o Conselho:
– Por que, então, o humano que tem nossa essência não nasceu entre nós?
Imediatamente o Conselheiro Arquia o encarou, sugerindo que se sentasse novamente, e argumentou:
– O fato é que esse humano descende de Malkuth, e carrega os poderes do seu ancestral. É o escolhido!
Miso, insatisfeito com as explicações, continuava questionando:
– Como pode alguém ser meio Elemental? 
– Há muito tempo, um Elemental saiu para uma missão. – Enquanto Arquia tentava explicar o Gram. Mir Seth, era persuadido ao pe do ouvido pelos comentários maldosos de Miso. Seth instigado e irritado interrompeu Arquia, e enfrentou o Conselho na ultima tentativa de convencê-los:
– Como aceitar a presença de um humano andando entre nós, compartilhando nossos segredos? Isso fere a preservação da nossa herança, nossos ritos de passagem, dons...
Arquia o interrompeu, e austero insistiu: – O clã de Belial já terminou seus argumentos!   Que comece a votação! –E continuou: – Quem é a favor da permanência da menina?
O primeiro a votar foi Leonel. O segundo, Notus. Em seguida, Nut e, por fim, Simei.
– Falta o voto do clã de Belial. – Inquiriu Arquia.
– Vocês já decidiram! Argüiu Seth insatisfeito.
Imediatamente Arquia levantou-se dando o veredicto:
– Eu confirmo o voto do conselho a favor da permanência do humano em Malkuth!
Miso, sentindo-se humilhado pela decisão se levantou, jogando a capa negra para trás em sinal de protesto, encarou Seth sugerindo que o acompanhasse, e seguiram em direção a saída. Descarregando uma energia negativa liberando vultos saídos do oráculo, e fazendo estremecer o templo de Maltwood. Os demais representantes para conter o mau feito levantaram seus símbolos de poder gravados na palma de suas mãos em direção ao oráculo, liberando um clarão que neutralizou a energia provocada pelo clã de Belial.




                                                       IV – a escola
                                             
Sam desistiu de tentar entrar no salão. Após a porta fechar batendo na ponta do seu nariz, deu meia-volta e seguiu pelo corredor, observando esculpido nas paredes o relevo de homens com cara de animais, cujos olhos pareciam lhe acompanhar. No final do corredor, Sam se deparou com uma porta imensa feita de troncos de um velho carvalho contendo inúmeros desenhos, carruagens de fogo puxadas por animais alados. Antes que tocasse a porta, ela se abriu. Seus olhos ofuscaram com a luz, e ela deu os primeiros passos em direção à cidadezinha, que estava repleta de Elementais transitando, entre alguns lindos e outros horríveis, aos olhos dela, é claro.  A movimentação do comércio chamou a sua atenção ela parou em frente a uma loja, enquanto observava os potes com aranhas, lagartixas, minhocas e até cobras vivas e outras substâncias não identificáveis, ramos de plantas amarrados em um galho, pendurados nas paredes parecendo uma vassoura, daquelas de bruxa. O cheiro era de variadas misturas de ervas gerando um aroma surpreendente, e o vendedor gritava em frente à loja:     
– Mandrágora, narciso, verbena, brionia, carvalho, romã, anis estrelado.
A menina continuou seu passeio de reconhecimento, quando uma velha Elemental jogou-se na sua frente, impedindo-a de caminhar:
– Deixe-me ver, menina! – Disse a rouca velha senhora de rosto enrugado, cabelos brancos e corpo encurvado puxou a mão direita de Sam, que abismada com as unhas enroscadas da mão da velha. Disse:
– Não, obrigada! – Retirando imediatamente sua mão do contato da mão da velha, que insistiu:
– Deixe-me ver seu destino?! – A velha pegou, agora, lentamente na mão da menina, encarando-a nos olhos. Sam, por instantes, ficou hipnotizada com o brilho dos olhos daquela velha Elemental do clã de Belial. A velha de dentes escurecidos sorriu e completou, dizendo:
– És a escolhida. Grande luta travará contra o mal.
Antes que a velha terminasse a frase, Sam inspirou profundamente, saindo do estado hipnótico com cara descrente. Convicta, puxou a mão de volta para si, e falou:
– Não, obrigada! 
 A velha fez cara de espanto ao ver a mancha no punho da menina, e saiu falando:
– Eu vi! Eu vi!
Sam continuou seu passeio na rua principal de Cracia. Mais adiante, avistou uma senhora Elemental que lhe trouxe uma doce lembrança da vovó Clara. A senhora acendia as lamparinas de outros seres Elementais, que lhe davam em troca mechas de cabelo, ervas e potes. Ela os colocava em um cesto que já estava abarrotado. Um sino soou duas vezes, crianças vinham de todos os lados e seguiam todas em uma só direção, vestiam túnicas de diversas cores; enquanto algumas brincavam pelo caminho, outros o percorriam sisudo. Sam lembrou-se do conselho do professor Acro, e seguiu as crianças com andar apressado por uma estrada de chão de terra mal desenhado, que os levou à entrada de uma grande colina parcialmente coberta de neve. As crianças à sua frente entravam e as tochas se acendiam por alguns instantes, iluminando a entrada da caverna, que logo retornava à escuridão, fazendo Sam sentir receio de nela entrar.
           Um jovem retardatário, apressado esbarrou na menina que estava sozinha em frente a entrada da caverna, e disse:
– Ei, você não vai entrar?
Encorajada, entrou com o menino. Ao darem seus primeiros passos, as tochas foram acendendo e revelando a beleza das paredes da caverna com pedras de diferentes cores e brilhos. Ate chegarem a um local mais amplo, uma espécie de câmara, que dava inicio a diversos túneis, cujo teto era mais alto. Nele, havia coisas penduradas, as quais Sam não pôde distinguir. Então, ela questionou o adolescente franzino que andava apressado logo a sua frente:
– Ei! O que é isso pendurado? Está se mexendo!
O jovem virou para trás e sussurrou:
– Fale baixo, você não vai querer acordá-los.
Sam apressou o passo para alcançar o jovem. Já próxima, perguntou novamente:
– Acordar exatamente o quê?
– Morcegos! – Sussurrou o jovem sem olhar para ela.
Sam o cutucou pelas costas e apontou com o indicador:
– Aqueles lá?
Quando o jovem olhou para trás e viu aquele turbilhão de morcegos vindo em sua direção, puxou a menina pela mão e gritou:
– Corre!
Ambos correram, entrando em um dos túneis da câmara, até encontrarem uma brecha entre as rochas. Ele então puxou a menina:
– Aqui!
Permaneceram os dois quietinhos, enquanto os morcegos passavam derrubando as tochas, deixando-os no escuro, o que permitiu ao jovem ver pequenos pontos de luzes que atravessavam uma fenda na parede da caverna, vindos do outro lado. Ele questionou:
– Você está vendo o que eu estou vendo? 
– O quê? Não vejo nada! – Respondeu Sam.
O jovem utilizou um de seus dons fazendo uma pequena bola de luz sobre a palma de sua mão.
– Também, com os olhos fechados... É aquela luz! Apontando para a fenda na parede da gruta.
A menina abriu os olhos olhando diretamente na palma da mão do jovem, surpreendendo-se:
– Que luz é essa? Estava escuro aqui! Xi! Acha que dá pra gente ir embora?
– Espere as tochas ascenderem. – Respondeu o jovem.
– Não precisamos de tochas, olha a luz aí! – argumentou Sam.
 As tochas caídas ao chão levitaram, fixando-se novamente às paredes, e logo depois acenderam. Porém, um vento frio entrou caverna adentro, apagando as tochas novamente.
O jovem, ainda com a bola de luz na palma da mão, pendeu com o corpo um pouquinho para frente, esticando-se:
– Eu acho que já foram todos. Espera ai! – O jovem deu alguns passos em direção à parede e aproximou os olhos da fenda, espreitando através dela. Em seguida, continuou:
– Esta fenda aqui! – Mostrando para Sam.
 A menina atravessou o corredor, apoiou as mãos na parede da caverna e ficou na ponta dos pés, também se esticando:
– Você está falando dessa luz meio azulada que vem deste buraco? Não consigo ver nada! De mais a mais, você é muito maior que eu.
– Isso não é um buraco; é uma fenda! –Disse o jovem, irritado.
Sam tirou as mãos da parede e colocou as plantas dos pés novamente no chão. Virou-se, dando uma boa olhada no túnel, e viu uma sombra assustadora no local onde os morcegos dormiam. Seu coração acelerou, e retornou novamente para a fenda na parede:
– Ei, o que é aquilo? – Perguntou Sam, puxando o jovem pela mão.
Essa luz não é “aquilo”; é o reino de Argatha! – O jovem respondeu, desvencilhando-se da menina esticou-se novamente para dar outra olhada no corredor:
– Puxa! Até que enfim eles se foram. Já podemos sair! Argatha é um mundo subterrâneo. O professor Leonel falou que a cidade... Ah, você não entenderia. É melhor irmos, vamos! – Atrapalhado, o jovem puxou a menina relutante pela mão, e ambos foram em direção à câmara, onde os morcegos dormiam, para pegarem o túnel certo e alcançarem as outras crianças. Sam se desvencilhou da mão do menino, parou de acompanhá-lo e disse:
– Dá pra você ficar quieto? Pare um pouco!
O jovem, não dando importância à menina, continuou andando. Há certa distancia, ele parou de caminhar, olhou para trás e perguntou:
– Vai ficar aí? Parada? Pense nos morcegos! – E seguiu andando. Então, a menina apavorada, com medo dos morcegos, resolveu segui-lo novamente. Mas, antes de colocarem os pés na câmara viram uma sombra gigante se mexendo, de imediato recuaram. Temerosos espiaram cuidadosamente e avistaram um Troll, que esticava o braço pegando alguns morcegos ainda pendurados no teto da caverna, para depois colocá-los dentro do saco que segurava com a outra mão. O jovem segurou a menina pela mão e de pé em pé foram se esconder atrás de algumas pedras, esperando que o Troll se afastasse. Assim que ele se afastou para pegar alguns morcegos pendurados mais à frente. O jovem fez um gesto de silêncio para menina, novamente segurou sua mão com firmeza, de pé em pé, passaram cautelosos por trás do Troll, e seguiram por outro túnel, neste instante o Troll baixou a mão do teto, empinou o nariz farejando de um lado a outro, e quando virou para trás não encontrou nada senão um rastro de cheiro. O Troll rapidamente se abaixou, cheirando o chão, farejou mais um bocado, espiou os túneis, mas não vendo nada. Então, desistiu de seguir o rastro:
– Há! – Disse ele, voltando a retirar os morcegos do teto da caverna.
Assim que se afastaram, a menina perguntou:
– Era aquilo que eu perguntei o que era?
O jovem, não dando ouvidos à pequena, respondeu:
– Estamos atrasados. Vamos! – E seguiram túnel adentro.
– Tá! Acho que o túnil que você escolheu é errado! – Sam disse sincera.
– Não é túnil, é túnel, e é este mesmo! Escuta o barulho! – Respondeu o jovem.
Barulhos de crianças vinham do fim do túnel, confirmando que o caminho era o correto. O jovem e Sam seguiram até o final, encontrando apenas um abismo. O jovem pulou e flutuou, e ao chegar ao chão, olhou para cima e gritou:
– Ei, menina, você não vem?
– Eu não sei flutuar. – Respondeu Sam, bastante frustrada.
– Venha, você consegue! – O jovem tentava encorajá-la.
A menina pulou, mas nada de levitar! Gritou:
– Ahhhhhh! Fuuiiiii!
Foi quando o professor Acro, atento aos acontecimentos, ergueu sua mão em direção a Sam fazendo-a pairar como uma pluma, até chegar ao chão. O professor disse:
– Olá, Sam! – Acenou com a mão. Em seguida, prosseguiu: – Venha até aqui!
A menina, curiosa para saber como o professor chegou à escola, e a fez pairar no ar, aproximou-se atendendo à solicitação do professor.
– Que bom que seguiu meu conselho! É um prazer vê-la novamente! Você é nossa aluna especial. Venha aproxime-se  – Convidou o professor. Antes que Sam perguntasse alguma coisa, Acro prosseguiu:
           – Ah, criança! Tenho meus truques. E você, como chegou a Cracia?
A menina ficou olhando o professor e pensando.
Acro continuou sua aula:             
– Estão prontos?
– Estamos! – Responderam todos.
– Ptero, aproxime-se! – Nesse momento, aterrissou no chão um enorme dragão. Algumas crianças gritavam:
– Eu quero ser o primeiro!
O professor olhou para aquele alvoroço e perguntou, rigidamente:        
– Onde está a fila?
De tão ávidas, as crianças começaram a se organizar em fila. Sam, apavorada, quase sem poder se mexer graças à chegada daquele animal face a face com ela, praticamente estava respirando em seu rosto, ela, discreta e calmamente deu alguns passos para trás, esquivando-se para o fim da fila, enquanto pensava “ser o primeiro de quê? Primeiro a ser comido, chamuscado pelo monstrão dragão?”.
O professor Acro começou a ministrar a aula:
– Não bata com os pés na barriga do Ptero, ele é muito sensível a barulhos. Falem gentilmente com ele, lembre-se de não se soltarem! Segurem-se bem! Mas e se soltarem?
As crianças responderam em coro: – Nós levitaremos.
– Qualquer dúvida o instrutor Kiro estará com vocês.
O duende Kiro mais o primeiro aluno da fila subiram no dragão, que começou a bater as asas. Levantando vôo em direção a cratera do vulcão adormecido; ao retornarem, foi à vez do segundo aluno, e assim sucessivamente. Porém, quando a fila estava pela metade, o professor, que havia observado ser Sam a última da fila, chamou-a gentilmente:
– Sam, venha. Você será a próxima!
A menina foi andando bem devagar para o início da fila. E assim que o dragão retornou Acro a pegou pela cintura, colocou-a sobre o dragão, e disse:
– Não se preocupe, não demonstre medo, e tudo sairá bem. Ptero é um bom menino! – Dando uma batidinha no pescoço do dragão, que parecia adorar aquele carinho, e ordenou:
– Vamos, voe! – Sam fechou os olhos, só ouviu o professor gritar:
– Segure-se! – Sam segurou-se nas rédeas presas ao redor do pescoço do dragão, enquanto sentia os movimentos bruscos das asas batendo. Subindo cada vez mais, até que o instrutor Kiro disse:
– Pode abrir os olhos, pequena Sam! Estamos sobrevoando Cracia.
Ela abriu os olhos e contemplou quanto à cidadezinha era linda:
– É lindo daqui de cima!
O duende instrutor começou a apontar para os templos dos clãs, um por um:    
– Aquele é o templo central, e se chama Maltwood; a sua esquerda é o leste, ali está o templo Ruach, o clã do ar; a oeste está o templo Glastambury, o clã da água; ao norte, o templo do clã da terra, chamado Silbury; por fim, ao sul está o templo Anasazzi, do fogo, e lá é o templo dos mestres negros, chamados de Belial.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                             
Sam prestava atenção às explicações de Kiro. Quando deu por si, tudo havia passado tão rápido que já estavam voltando para a cratera do vulcão.
Ao tocarem o chão, o professor retirou Sam de cima do dragão:
– Gostou do passeio?
– Agora que eu estava começando a me divertir... Eu amei! – Respondeu Sam, eufórica.
– Isso é bom! Aqueles que já passearam com o Ptero, esperem sem fazer bagunça. – O professor pediu calmamente.
Neste momento, um engraçadinho levantou a mão e disse:
– Professor, eu sou o próximo, ainda não ...
– Então venha! – Respondeu Acro, colocando o pequeno aluno em cima do dragão, que parecia insatisfeito. O professor fez um carinho no pescoço do dragão:
– Vai amigão! – Ptero ficou parado, respirando firme, virando a cabeça de um lado para o outro, sem dar muita importância à solicitação do professor. Acro, sem entender nada, bateu carinhosamente mais uma vez no pescoço de Ptero:
– Voe! – Nada aconteceu. Então, o professor chegou bem pertinho do ouvido de Ptero e sussurrou:
– Ele já foi? Ah, sim. Bom menino! – Fez mais um carinho no pescoço do dragão e encarou o aluno:
– Você iria me enganar! Mas não consegue enganar meu menino. Vamos, desça daí! Quem é o próximo?
Enquanto alguns esperavam a vez de voarem, outros brincavam com seus poderes, fazendo o cabelo dos outros se arrepiarem; outros, apenas conversavam; Sam, para ocupar o tempo, observava um grupo de cinco meninas de  vestes negras que a encaravam com grande desprezo, e que riam muito, deixando-a intrigada.
O jovem que acompanhou Sam na travessia da caverna até a escola, vendo aquela situação, aproximou-se da menina:
– Ei, venha cá! Há algo que quero lhe mostrar!
– Você esta falando comigo?
– Sim, com você!
– O que você tem para me mostrar?
– Venha, você vai gostar!
As meninas do grupinho começaram a debochar, enquanto uma delas falou:
– Deve ser um verme, bem gosmento! – Todas riram.
Sam, ouvindo o comentário da menina, sacudiu os ombros e andou em direção ao jovem:
– São umas bobas, ridículas! O que você quer me mostrar?
– Nada, eu só queria que você se afastasse dali.
– Mas por quê?
O jovem aproximou-se de Sam e lhe disse ao ouvido:
– Elas podem hipnotizar e envenenar você!
– Mas como? – Questionou Sam surpresa
– Elas são de natureza má. Está vendo aquela de cabelo enrolados, nasceu no clã de Anasazzi? Assim que cresceu, foi levada para o clã de Belial.
Sem entender nada, Sam olhou fixamente nos olhos do jovem, e perguntou:
– Qual o seu nome?
– Sou Elion, filho do Elfo Adab. E você, é Sam não é mesmo?
– Como você sabe o meu nome? – Questionou Sam curiosa.
– O professor te chamou de Sam. A que clã você pertence? – Disse Elion irritado.
Antes que Sam desse uma resposta, o professor apareceu, interrompendo-os:
– Venham, crianças! Todos já deram uma voltinha no bafo do dragão Ptero! Agora formem uma nova fila.
O professor conduziu os alunos em fila em direção a uma falsa porta, atravessando-a. Enquanto os alunos se acomodavam na nova sala, ao redor de uma grande mesa em forma de ferradura. Acro ao lado de Sam, se aproximou de uma Elemental, esguia de cabelos compridos e castanhos cobreado, vestindo um longo vestido de diferentes tons amarelo e roxo . O professor encabulado na presença da Elemental colocou uma das mãos sobre os ombros da pequena Sam, e disse:
– Sam, esta é a professora Sofia.
Sofia, com as maçãs do rosto avermelhadas. Também encabulada, tentou disfarçar, ficando de frente para a turma:
– A partir de hoje, temos uma nova aluna. Seu nome é Sam! – Sofia apresentou Sam à turma, apontando para o local em que a menina deveria se sentar, coincidentemente, bem ao lado de Elion. 
 O professor retirou a mão dos ombros da menina e, olhando-a como um mentor olha seu pupilo, avisou à professora:
– Ela, é uma aluna muito especial! – Dizendo isso, incentivou-a a se sentar:
– Seja uma boa menina, eu estarei aqui se precisar, é só me chamar em seus pensamentos. Sofia é uma ótima professora!
– O senhor também é um ótimo professor!  – Proferiu Sofia.
Deixando Acro ainda mais encabulado com o comentário, mas sorriu e finalmente se preparou para sair da sala: – Até mais, crianças! Eu tenho que alimentar Ptero! – Desajeitado, fez um pequeno aceno e despediu-se da professora:
– Tchauzinho!
Sofia, encantada, suspirou correspondendo ao abano:
– Até mais!
Retomando a postura perante os alunos, deu inicio às atividades: 
– Bem, quem trouxe os pergaminhos? Ah, vejo que todos trouxeram! Ótimo!
– Vamos continuar com nossa aula de leitura e interpretação de receitas mágicas. É muito importante saber a quantidade exata para uma poção. Devemos ler as receitas com minúcia e sem pressa, para usarmos corretamente os ingredientes. Por quê?
Algumas crianças respondem em conjunto:
– Para não errar o encantamento.
– As receitas podem estar escritos em? – Perguntou Sofia, junto a estante escolhendo um pergaminho  o desenrolou por inteiro. Deu uma breve olhada e o enrolou novamente,  levando-o à mesa em que Sam se sentou.
Sem resposta alguma. Ela insistiu:
– Vamos! Vocês sabem a resposta! – Os alunos continuaram em absoluto silencio. Ela continuou:
– Encantamentos podem estar em latim, grego, hebraico ou sânscrito.      
– Abram e comecem a ler em voz alta! Você primeiro. – Disse Sofia, apontando para um jovem. O jovem começou a ler em voz alta, e sempre que errava a pronúncia de alguma palavra, as meninas más começavam a rir e a fazer gracinha, pronunciando as palavras com deboche, fazendo as colegas rirem.
 Uma delas levantou a mão e disse:
– Professora, é mesmo necessário pronunciar essas palavras? – Sofia encarou a menina:
– Sim! É muito necessário, seja com a finalidade de elevar seu nível de consciência – o que você ainda não tem –, ou de desenvolver a espiritualidade, o mais importante é despertar seus poderes, invocar proteção, tranquilizar sua mente. –Voltou a repetir, dando ênfase: é muito necessário!
Uma das meninas do grupinho das malvadas, para apoiar a amiga, fez um movimento com as mãos fazendo-os parecer uma aranha, questionando a professora Sofia:
– Até mesmo para fazer o mal?
Sofia imediatamente respondeu:
– Sim, até mesmo para finalidades destrutivas, como apropriação, destruição, aquisição do que não nos pertence.
No mesmo instante, as meninas se fizeram de alunas sérias e dedicadas.

 

 

 

V – armadilha


Seth e Miso, descontentes com a decisão do Conselho, retornaram ao templo de Belial. Seth voltou a meditar, a fim de acalmar os ânimos. Miso, plenamente convicto de que Seth não era capaz de levar adiante o confronto com o Conselho, o que certamente atrapalharia seus planos. Decidiu convocar Elementais de menos poder pertencentes ao seu clã e promover reuniões secretas nos porões do templo de Belial, e sob o argumento de que o Conselho estava traindo as próprias leis, as convenções de Cracia.
Na reunião, Miso argumentava:
– Temos que libertar o mestre Mort.
– Onde ele está preso? – Questionava um dos participantes.
– Boa pergunta! – Respondeu Miso, cinicamente.
 Ao terminar a reunião com os rebeldes, Miso sentou-se na confortável poltrona enquanto maquinava um plano.
Trevoso um Elemental do clã de Belial discípulo de Miso estava no bosque, atrás de uma árvore. Observava uma Gray comer um pedaço de carne que ele havia pendurado em um galho, quando ouviu o chamado ecoando em sua mente:
– Trevoso!
Ele estremeceu e os pássaros voaram assustados, pressentindo algo de ruim. Trevoso se despediu de Gray com voz rouca:
– Mestre precisa de Trevoso! – Cabelo lambido e mal arrumado, saiu do bosque arrastando uma das pernas, indo de encontro com o mestre. Trevoso entrou pelos portões do templo de Belial, seguindo direto ao porão. Desajeitado, aproximou-se, encontrando Miso esparramado na poltrona.
– Trevoso chegou, mestre! – Disse Trevoso fazendo uma reverência a Miso que, irritado pela demora, e ansioso em executar seus planos mirabolantes e malignos, ainda sentado na poltrona, inclinou o corpo para frente, e gritou:
– Demorou seu idiota!
Trevoso levou um tremendo susto, inclinando-se para trás enquanto arregalava os olhos. Miso levantou-se da cadeira e foi até a mesa, separou um dos pergaminhos e o entregou a Trevoso, com tom de voz ameno:
– Vá à caverna de Crom! Leve esta mensagem! – Alterando a voz, continuou: – Agora! Não demore! 
Passado algum tempo.
Trevoso regressou ao porão:
– Amo! Fiz o que me ordenou. Aqui está a resposta. – Disse Trevoso, reverenciando Miso.
Miso puxou o pergaminho das mãos de Trevoso e o leu em silêncio.
– Ótimo! Agora, vá as Crateras dos Grays. Leve esta mensagem! – Dito isto, entregou uma pedra a Trevoso, que prontamente o corrigiu: É dos Dracons, Mestre! E, isto, é uma pedra!
Miso nem se abalou, e falou tranquilamente:
– Que seja. Dracons, Grays, tanto faz! Vá e entregue a pedra a eles! Ela é um holograma, seu idiota! – E com um súbito movimento de mãos, Miso fez um campo magnético dentro da sala, tirou a pedra das mãos de Trevoso, colocou-a sobre a mesa e a girou. Apareceu a imagem de Miso dizendo:
– Vão à fonte do segredo. Tenho algo que vocês querem! Lá ninguém pode nos escutar, nem mesmo Deleon. – Miso colocou a mão sobre a pedra fazendo-a parar de girar, interrompendo a mensagem. Desfez o campo magnético, pegou a pedra da mesa, entregou-a novamente a Trevoso. E zangado, exaltou-se novamente:
– Agora, vá!
Trevoso, desconcertado saiu reclamando:
– Trevoso faz isso! Trevoso faz aquilo! Tudo é Trevoso.
Passado algum tempo.
Trevoso, regressou novamente, indo ao encontro de seu amo. Como sempre, reverenciando-o quando o encontrava:
– Amo, Trevoso traz a resposta da mensagem esquisita.
– Qual é?
– Sim! A resposta é sim.
– Tudo está saindo como eu planejei. Vamos chamar os rapazes, temos um serviçinho a fazer! – Disse Miso satisfeito.
Miso, três discípulos e Trevoso entraram floresta adentro em direção ao local de encontro, enquanto esperava o convidado, Miso deu ordens a dois discípulos:
– Tragam raízes de cipó.
 O convidado se aproximou do local combinado, e logo estranhou a ausência de Arquia. 
– Onde está Arquia? – Questionou  o Dracom Crom.
– Ele vai demorar um pouco. – Disse Miso, com astúcia.
– Vou esperá-lo aqui! – Disse Crom sentando em um velho tronco caído ao chão. Minutos mais tarde.
– Que bom que você chegou! – Disse Miso a dois de seus discípulos que se aproximavam por de trás de Crom..
           Crom olhou para trás achando que era o  amigo Arquia, mas não o vendo. De súbito percebeu que se tratava de uma armadilha, e imaginou Arquia na esperança de emitir um pedido: socorro.
          o astuto Miso na intenção de bloquear Crom por completo criou um encantamento ao redor do prisioneiro ordenando aos discípulos:
– Agora! – Os discípulos jogaram sobre Crom um manto negro que cortou a propagação das ondas de telepatia do chamado de socorro a Arquia. Em seguida, o amarraram imobilizando-o com raízes de cipó.  
Enquanto isso, Arquia estava em sua biblioteca particular, sentado à mesa fazendo importantes anotações em seu livro. E sentiu uma vibração negativa vinda de Crom.
Arquia preocupado com tal sensação, parou de escrever, pensou exaustivamente no amigo, mas não obteve resposta alguma. Então, Arquia se levantou da cadeira e foi ao canto esquerdo da parede. Retirou o manto azul-celeste que cobria o espelho de cristal e escreveu no espelho.

    G I L I O N I N     
    I                      I
    L                     N
    I                      O                                                                                                                                                                                                                  
    O                     I
    N                     L
    I                       I
    N I N O I L I G

As letras desenhadas no espelho fizeram cessar o reflexo de Arquia, mostrando um nevoeiro que gradativamente desapareceu, revelando Crom em sua caverna, escrevendo em um pergaminho e o entregando a Trevoso. Arquia ficou intrigado:
– O que Trevoso fazia na caverna de Crom?
De repente, o espelhou passou a refletir somente o nevoeiro. Alguém bateu à porta da biblioteca:
– Um momento! – Disse Arquia. Pegando rapidamente o manto azul-celeste e cobrindo o espelho. Feito isto, foi abrir a porta, mas não havia ninguém.
Enquanto isso, Crom envolto no manto negro era carregado floresta adentro pelos discípulos de Miso, com destino à fonte do segredo. Ao chegarem, Miso se deparou com um grupo de Dracons e grays que já os esperava.
– Este é um presentinho para vocês! – Disse Miso. Caçoando. Enquanto seus capangas jogavam Crom no chão. Imediatamente  o chefe dos Dracons em seu idioma fez sons estridentes, ordenando os draconianos a se aproximarem do saco, para abri-lo.
– Não! – Interveio Miso, fazendo um encantamento. Jogando longe os Dracons que se aproximaram do saco. O chefe dos Dracons, mediante a hostilidade de Miso, ordenou aos outros que ficassem em posição de ataque, ao seu comando. Miso, na iminência dos Dracons revidarem, se manifestou:                      
– Esperem! O que tem aí dentro é muito valioso para vocês. Eu quero algo em troca!
Trevoso, muito sério apreciando a negociação, sentiu algo se encostar à sua veste. Olhou para trás, mas não vendo nada, fitou o chão vendo apenas uma pedrinha verde, junto a seus pés. Então, voltou-se novamente à negociação.
– O que tem de tão precioso no saco? – Perguntaram os Dracons.
Trevoso novamente sentiu algo tocar sua veste. Olhou para o chão e viu outra pedrinha verde, mas dessa vez intensificou a busca, olhou para os lados, avistando a Gray escondida atrás de um amontoado de pedras. Trevoso tentou disfarçar... Enquanto a negociação se intensificava.
– Vocês têm um rebelado? – Questionou Miso.
O chefe Dracom imediatamente percebeu que se tratava de Crom, e negociou:
– O que você quer?  
– Quero o cristal do cinturão de Orion. – Barganhou Miso.
O chefe dos Dracons conversou no dialeto draconiano com os outros Dracons:
– Precisamos de Crom! – Ao dizer isto, o chefe Dracom retirou do pescoço um cordão com um cristal pendurado e jogou-o aos pés de Miso, que utilizando o seu poder sobre a natureza atraiu até sua mão um galho seco jogado ao chão, e o enfiou no cordão, fazendo-o deslizar em direção a sua mão e, na sequência, pendurando-o em seu pescoço. 
–Agora nós nos entendemos. –Disse Miso sarcasticamente, com um sorriso no rosto.
Os reptilianos, em seu próprio idioma, reclamavam ao chefe Dracom:
– Ele tem que cumprir com sua parte!
Antes que o Dracom o repreendesse, Miso levantou uma das mãos, retirando o encantamento que estava sobre Crom, e completou, dizendo:
– Ele é todo seu! Vamos, rapazes!
Miso e os demais do grupo deram alguns passos para trás, até a saída da fonte dos segredos, onde viraram e seguiram de volta a Cracia.
 Os Dracons colocaram, junto ao cipó, que prendiam as mãos de Crom um bracelete para impedi-lo de se comunicar telepaticamente. Em seguida, retiraram o manto negro que o cobria. O chefe Dracom:
– Agora você vai nos ajudar a terminar o que ajudou a começar. Levem-no para as Crateras!
– Mas o cristal de Orion, não esta mais com você! –Argumentou Crom.
– Acha mesmo que iríamos dar a chave mestra àqueles idiotas? Você só poderia ser um draconiano do gene positivo, seu tolo! – Ironizou o chefe Dracom. he hehe
O prisioneiro Crom foi conduzido aos empurrões às crateras dos Dracons enquanto argumentava:
– É uma pena que vocês não conseguem evoluir moralmente. Ainda continuam fazendo experiências genéticas, tentando melhorar sua aparência, mas se esquecem do gene da luz. Aniquilar as raças com seu domínio, subjugando-as... Isso só atrasa o despertar da verdade. Vocês estão procurando a segunda morte. É uma pena que os Reptilianos e os Grays ainda estejam compactuando com vocês. Os Reptilianos ainda estão prometendo mudar a aparência de vocês ou prometem a continuação da espécie. O chefe Dracom, irritado com Crom, ordenou:
– Fique quieto! – Dito isto, empurrou-o friamente para dentro da cratera.







                                                          VI – cratera

     Na sala de estudos Arquia continuou com a sensação de que algo estava errado. Após consultar o espelho mágico e não ter resultado algum, decidiu ir à gruta de Crom. Lá chegando, antes de entrar jogou uma pedra em direção à entrada; ela se destruiu ao colidir com o campo magnético de proteção. Sendo assim, Arquia imediatamente desfez a proteção magnética e entrou, surpreendendo-se com os desenhos nas paredes, que detalhavam a história da chegada dos Dracons à dimensão dos Elementais.
Após observar as paredes, Arquia segurou um dos objetos de Crom, para utilizar o poder de psicometria, na esperança de que através do objeto pudesse ver e saber o que havia acontecido, mas só conseguia ver o que o espelho de cristal mágico já lhe havia mostrado: o nevoeiro. Arquia, preocupado, saiu da gruta falando consigo mesmo:
– Se Crom transmutou, eu saberia.
O ancião decidiu voltar ao templo central. Desta vez para
consultar algo mais poderoso: o Circulum.  Lá chegando posicionou-se frente ao oráculo que tudo vê, e com movimentos circulares das mãos, solicitou uma visão, que insistia em revelar apenas o nevoeiro. Arquia, insatisfeito com a revelação do oráculo, sentou-se na poltrona na tentativa de relaxar e se concentrar mais profundamente, no que foi interrompido por Miso, que entrou intempestivamente no salão, sem ser anunciado:
– Mestre! Precisamos conversar! 
Então Arquia se levantou da cadeira, posicionando-se frente ao oráculo novamente e, sem encarar o intempestivo Miso, o questionou:
– Sabe de alguém que fez encantamentos magnéticos hoje? – Feito à pergunta Arquia fechou os olhos por alguns instantes e ao abriu novamente, agora, conseguia ver alem da matéria.
– Não, mas isso tem há ver com o sumiço de alguém? – Questionou Miso, descaradamente.
Arquia, agora, desconfiado, continuou a ignorá-lo, pois, percebia na aura de Miso um turbilhão de cores negativas, o que denunciava maus feitos e pensamentos:
– O que exatamente o trás aqui? – Indagou Arquia.
Miso, sentindo-se incomodado apressou-se em responder:           
– Hoje na floresta, alguns de meus homens disseram terem visto os Dracons aprisionarem Crom.
Arquia, surpreso questionou a informação:
– Quem viu?
– Trevoso. – Disse Miso.
– Mande Trevoso vir aqui! – Ordenou Arquia, agora, encarando-o profundamente nos olhos.
Miso que, sentindo-se invadido, embaraçado argumentou:
– Não, mestre! Trevoso está em uma missão. Devo ir agora! – Desconcertado, virou dando as costas a Arquia, e pensou: “ele está sondando meus pensamentos”.
Arquia questionou-o novamente, antes que saísse:
– Você sabe se Crom e Trevoso se falaram hoje?
Miso, já próximo à porta, articulava em sua mente: “não permitirei que invada meus pensamentos”. Resistindo a invasão.  Virou-se para Arquia, encarando-o de frente, respondeu:
– Não! Não sei! Devo ir agora! – Miso reverenciou o ancião na tentativa de se esquivar de encará-lo. Esse ato propiciou que o cordão que carregava no pescoço ficasse à mostra. De imediato a aparição do pingente deixou Arquia ainda mais intrigado. Mas, enfim, Miso retirou-se do salão.
Arquia apoiou as mãos no oráculo mágico e imaginou Alba, o grande mestre em magia ilusória, que imediatamente se materializou atrás do ancião:
– Estou aqui! Chamou? – Disse Alba.
– Que bom vê-lo, seu grande enganador! – Disse Arquia virando-se de frente para o amigo, de estatura baixa corpo rechonchudo e uma longa barba, Ambos se abraçaram num cumprimento saudoso:
– O que tem feito? – Perguntou Arquia cordialmente.
– Grande! AH! Não tenho feito nada que não seja de costume. – Respondeu Alba, sempre gracejando.
– Presumo que ainda esteja a se passar pelo seu irmão, enganando sua mãe.
– Não, meu encantamento não a engana mais. – Alba soltou uma gargalhada. Arquia colocou a mão direita sobre o ombro do amigo e disse:
– Querido amigo, preciso de sua ajuda em uma missão muito, muito perigosa. Crom foi feito prisioneiro pelos Dracons.
– Mas eles não são da mesma espécie? – Questionou Alba.
– Sim, ele é da raça draconiana, mas pertence ao lado da luz, o que significa que, como nós, ele tem a dualidade que tanto nos atormenta, a busca do aperfeiçoamento moral ético, espiritual..., como o amigo sabe.
– Se ele é luz, também é meu amigo. Farei o que for necessário para ajudá-lo!
– Vamos! O tempo é precioso! – Disse Arquia ansioso.
Ambos partiram em direção à floresta dos Dracons. Chegando nela, caminharam em direção à parte mais fria, densa e nebulosa, separada apenas por um nevoeiro, conhecida como a região das crateras nefastas dos Dracons. Arquia e Alba andavam cautelosos ouvindo apenas os barulhos de seus próprios passos pisando sobre os galhos ressecados; vultos passavam rapidamente por eles, às vezes tão perto que pareciam tocá-los.
Arquia encostou sua mão esquerda no antebraço de Alba, através de um gesto solicitou que parasse. No que o fizeram, mais uma vez algo passou rapidamente. Alba, impressionado, perguntou ao amigo:
– Sentiu isso?
– Abra sua terceira visão. – Sugeriu Arquia. Ambos fecharam os olhos por instantes, e ao abri-los a visão se intensificou. Agora podiam ver o oculto astral, e o nevoeiro já não era mais denso. Avistaram três lindas mulheres sedutoras passando entre eles. Alba, entusiasmado, disse:
– Nossa, são lindas! – Pois realmente pareciam lindas! Eram lindas mulheres com vestes esvoaçantes, corpos bem definidos. Flutuavam se insinuando enquanto acenavam para eles. Uma aproximou-se de Alba com o intuito de seduzi-lo.
– Não acredite em tudo que vê! – Arquia advertiu o amigo. Tomando partido da situação  ordenou:
– Não as encare! – A ordem fez Alba voltar a si. Elas insistiam, e eles as ignoravam. Desprezadas, elas mudaram a abordagem trocando suas feições de lindas mulheres sedutoras para monstros horripilantes. Seus rostos ressecados se pareciam com os de morcegos. Os corpos esculturais agora eram apenas músculos. Elas voavam em direção a eles, com asas iguais as de morcegos, atacando-os como se quisessem mordê-los. Alba, assustado com tamanha diferença:
– Credo, é assustador!
Arquia zangado com as harpias usou sua autoridade:       
– Aelo, Ocipite, Celeno, suas harpias malvadas, ordeno-lhes que parem! Chega de brincadeiras, não quero me arrepender de ter feito o encantamento para soltá-las.
As três harpias se olharam apavoradas com a idéia de voltarem ao seu cativeiro, e responderam simultaneamente com o mesmo grito:
– Não!  
– Seremos boazinhas! – Responderam em coro, por fim. Então, afastaram-se deles com medo da ameaça de o mestre as prender.
 Alba impressionado questionou o mestre Arquia:
– O que exatamente eram aqueles monstros?
– São as harpias, filhas de Taumas e Electra. Elas procuram mortos para roubar seus corpos. Foram capturadas e aprisionadas em uma caverna e, desde então, a floresta começou a ficar fria e cada vez mais densa. Até nem um raio de luz penetrar através dos galhos. E os animais que habitavam essa parte da floresta desapareceram.
De repente, Alba escutou um barulho, e sugeriu ao mestre que parasse. Arquia sentindo que algo se aproximava de imediato fechou a terceira visão e levou uma de suas mãos ao cinturão, pegou uma pequena bolsa, de onde retirou um pó dourado, e jogou sobre sua cabeça e a de Alba, deixando-os invisíveis.  Era um grupo de invasores extras terrestres, tinham corpos esguios, olhos amendoados e pele acinzentada, eram  conhecidos pelas habilidades em combate, chamados como Dracons. Estavam acompanhados por uma pequena matilha de animaizinhos, menores em tamanho, quadrúpedes e mandíbulas com presas expostas, que circulavam como animais domésticos brincavam e farejavam o chão, como se sentisse a presença de algo diferente.
Arquia e Alba em silencio observavam os Dracons. Quatro deles carregavam um objeto de metal em formato de cone, que parecia pesar muito.
– Vamos com isso! Parem! Coloque o cone no chão! Tirem esses galhos daqui! – Ordenava o chefe Dracom. Enquanto os Dracons tiravam os galhos de um buraco, enquanto o chefe Dracom pressionava gritando:
– Vamos! Andem! – Cada Dracom pegou novamente em uma ponta do objeto e todos continuaram a caminhar sem desviar do buraco. Enfim, desapareceram.
Arquia e Alba ficaram visíveis novamente e foram até o lugar em que os Dracons desapareceram, parando próximo das últimas pegadas. Olharam para frente, para os lados e para trás, e tudo o que viam eram árvores entre o nevoeiro. Então Arquia fitou com atenção o chão:
– Esta vendo esse redemoinho de areia? Aqui é um portal! Há outra entrada mais à frente, mas essa será providencial. Agora precisamos de sua mágica.
– Pense no que você quer se transformar! – Disse Alba.
Então Alba ficou frente ao ancião, pegou seu bastão do tamanho de um dedal e começou a girá-lo em torno da cabeça de Arquia, provocando uma energia em forma de espiral até chegar aos pés. Enquanto pronunciava mantras: transmutare.
 Arquia foi se transformando em um Dracom.
Alba fez a mesma magia de transformação, e se pareceu com um reptiliano, pouco mais alto, mais magro que um Dracom, mas sua face tem características de um réptil.
– Isso é nojento! – Disse Alba, e depois, complementou:
– Mestre, não temos muito tempo! Meus poderes vêm do sol, e já estamos há muito tempo aqui. É melhor prosseguirmos. 
Então, eles andaram sobre as pegadas dos Dracons até o redemoinho de areia que os sugou fazendo-os cair em um buraco escuro. Enquanto caiam, Arquia os fez levitar, atingindo o fundo, Arquia produziu sobre a palma de sua mão uma chama de fogo que iluminou o buraco, revelando que estavam cercados por paredes. Uma corrente de ar mudou o movimento da chama, revelando a falsa parede. Eles a atravessaram, e finalmente entraram na caverna dos Dracons, se deparando com dois Grays como cães de guarda, um de cada lado da entrada. Um deles começou a cheirá-los, farejando de cima a baixo. Logo o outro Gray também fez o mesmo. Arquia meticuloso para não serem descobertos. Com uma das mãos, fez um movimento mágico derrubando um objeto que estava longe, desviando a atenção dos Grays, que se deslocaram na direção do barulho, deixando-os livres para continuarem adentrar a gruta. Atentos e maravilhados com a tecnológica e com a quantidade de ramificações nas cavernas, trabalhosamente projetadas para garantir a eficiência dos invasores. Em uma das ramificações, os Reptilianos trabalhavam em uma nave espacial. Quando um fato seduziu ainda mais a atenção de Arquia e Alba, a chegada de um Dracom com uma bandeja repleta de pedaços de carne, que foram jogados ao chão, os Grays, ansiosos pela comida, pulavam como feras na disputa pela carne. Isso parecia agradar aos Dracons, enquanto os Reptilianos olhavam com desaprovação. Seguindo pelos corredores Arquia e Alba, passaram por diversos Dracons e Reptilianos que atravessavam as paredes denunciando a existência de mais um portal. Atentos  a todos os acontecimentos, até que  numa das salas de uma das ramificações avistaram Crom trabalhando sobre uma maquina. Então, aproximaram-se dele.

 


                                                 VII – procura

No bosque, a doce Ignis Elemental, guardiã do fogo, de intuição aguçada, terminava de colher o que faltava para fazer seus incensos. Ao dar seus primeiros passos em direção à velha estrada do bosque que a levaria novamente à cidade de Cracia, alguns elementais a cavalo passaram apressados a apenas alguns centímetros de Ignis, que assustada deixou cair seu cesto ao chão. Ela abaixou-se, enquanto juntava o que ficou espalhado, ouviu um estrondo, olhou o céu e avistou relâmpagos acompanhados de uma nuvem negra sobre o templo central. Isso era um sinal de que algo estava errado. Pressentindo o perigo, correu para a cidadezinha. Assim que entrou pelo corredor do templo central de Maltwood encontrou Notus caído ao chão quase transmutando. Ofegante e cansada, ajoelhou-se próximo ao corpo de Notus, ergueu suas mãos para o alto, respirou pausadamente com a finalidade de equilibrar suas energias e concentrou-se. Tendo fechado os olhos, começou a energizá-lo com o intuito de salvá-lo, mas os raios que liberava não eram fortes o bastante para ajudá-lo. Ignis, então, com a mão direita uniu seu dedo indicador ao polegar, em forma de um olho, e posicionou no centro de sua testa. Evocou Deleon, do clã do vento:
– Deleon, preciso de ajuda. Agora!
Deleon pairava como uma suave brisa:
– O que está acontecendo?
– Procure Arquia! Notus está transmutando!
No mesmo instante, Deleon circulou em forma de vento por todos os lugares, à procura de Arquia.
Ignis, com semblante triste, acariciava a face de Notus, que tentava sussurrar algumas palavras:
– Drac...
Ignis colocou seu ouvido próximo aos lábios de Notus que, com muito esforço, sussurrou novamente:
– Draco...
– Dracons! – Interveio Ignis, questionando-o, em seguida:         
– O que eles têm há ver com isso?
– Ignis, eu não encontro Arquia em lugar algum. – Deleon respondeu sôfrego.
– Notus sussurrou “Dracons”. – Disse Ignis espantada.
– É isso! Ele deve estar na zona draconiana, por isso não o encontro, mas sei quem pode encontrá-lo! – Disse Deleon. Então, ainda em forma de vento, ele emitiu um assobio:                   
– Aradia, Aradia, Aradia.
Aradia estava junto a Pandora, meditando em posição de ioga próxima ao rio dos sonhos. Aradia escutou dentro de sua mente o barulho do vento cantando seu nome e respondeu:
– Estou junto ao rio dos sonhos.
– Você precisa encontrar Arquia. Ele está com os Dracons. Notus esta transmutando!
Aradia continuou sua meditação junto ao rio dos sonhos. Utilizando-se do poder mental, fixou seu pensamento em Arquia e mentalmente entrou floresta adentro, percorrendo exatamente o mesmo caminho que Arquia e Alba fizeram. Andou sobre as folhas secas até cair no buraco escuro. Sem nada enxergar, Aradia respirou profundamente, e esfregou as mãos produzindo algumas faíscas. Antes mesmo de a chama acender, pulou sobre ela um Gray, transpassando-a, o que muito lhe assustou. O monstrinho havia saído da secreta entrada da gruta, o que facilitou a Aradia descobrir o local da entrada. Seu pensamento entrou na temível cratera dos Dracons, encontrando um ambiente claro e infestado de Grays farejadores, disputando um pedaço de carne. Enquanto caminhava entre inúmeros Dracons e Grays à procura do mestre, mentalmente chamava:
– Mestre! Mestre!
De repente, seu pensamento se deparou com um Dracom. Ela o olhava e, no mesmo instante, pensava na fisionomia de Arquia. Mas seus olhos apenas viam a figura de um Dracom, e sua mente insistia a revelar a fisionomia de Arquia. O ancião sentindo a presença de um Elemental, e vendo a imagem de Aradia em sua mente:      
– Aradia? 
– Mestre! – Mentalmente Aradia o respondeu, surpresa.
Enquanto Arquia e Alba caminhavam em direção a Crom, Aradia falava ao mestre:
– Notus está transmutando. Sua presença é necessária para a magia reversa. Não temos muito tempo! – Neste instante, o pensamento de Aradia voltou como um retrocesso rápido. A sua mente uniu-se novamente ao seu corpo. Encontrando relâmpagos ecoando sobre o rio dos sonhos.
– Arquia recebeu a notícia. É só aguardar! – Disse Aradia
Deleon, após receber a mensagem de Aradia, mentalmente avisou Ignis:
– Arquia já foi encontrado!

Enquanto isso, nas crateras, Arquia e Alba se aproximaram de Crom sem serem reconhecidos: – Como você está?    – Perguntou Arquia.
– Como eu poderia estar? Enjaulado, por vocês! – Respondeu Crom, bastante nervoso.
– O amigo não me reconhece? – Arquia redargüiu levantando sua mão direita e mostrando o anel em seu dedo, enquanto o apontava para o bracelete, quebrando-o e liberando os poderes de Crom, o que lhe permitia comunicar-se pelo pensamento:
– Arquia! Que bom vê-lo! Ele quem é?
– Não há tempo para apresentações, temos que sair daqui! Estou ficando fraco! – Advertiu Alba telepaticamente.
Dito isto, as verdadeiras identidades de Alba e Arquia começaram a aparecer e desaparecer, chamando a atenção dos Grays, que os olhavam sem entender o que acontecia enquanto retorciam suas caras.
– Junte-se a nós porque sairemos agora! – Disse Arquia. – Eles fizeram um círculo colocando as mãos um no ombro do outro. A face verdadeira de Arquia e de Alba se revelava por períodos mais longos. Os Grays já estavam circulando ao redor deles, e Arquia sussurrou um encantamento:
– EX DI MET, EX DI MET, EX DI MET.
Seus corpos vaporizaram, tornando-se uma luz que percorreu o corredor da cratera dos Dracons, enquanto os Grays a olhavam passar entre eles até encontrar a saída e se misturar à luz do dia. Os Grays, sem entenderem o que aconteceu, começaram a gritar com voz estridente:
– Crom sumiu! Crom sumiu! – Faziam o maior tumulto dentro da gruta, chamando a atenção dos Dracons e dos Reptilianos, que foram imediatamente ver o que estava acontecendo. Ao confirmarem que Crom havia sumido, um dos Reptilianos disse:
– Veja como ficou a máquina!
– Acho que só ficou essa peça fora do lugar. – Um dos Dracons exclamou, colocando a mão sobre a peça, empurrando-a para encaixá-la.
– Não faça isso! – Tentou avisar o Reptiliano, mas já era tarde demais. A máquina provocou uma hedionda explosão na gruta dos Dracons.







VIII – revitalização


Arquia, Alba e Crom retornaram das crateras dos Dracons. Chegando à cidade de Cracia, num raio de luz, materializaram-se sob o mau tempo com relâmpagos, trovões e a indesejável nuvem negra que avançava sobre todo reino de Malkuth. O ancião, sem saber o que estava acontecendo, temia pelo pior. Mesmo cansado, demonstrava a satisfação de ter cumprido a missão de salvar o amigo Crom.                            
– Chegamos! O clima não está nada bom! – Disse Arquia com sua aparência completamente restaurada.
– Agradeço a vocês meus amigos, gostaria de retribuir... – Disse Crom agradecido.
– Um bom jantar já me animaria. – Confidenciou Alba, dando uma batidinha em sua pança.
– Infelizmente, agora não é hora! Mas em outro tempo, o faremos! – Arquia considerou.
– Arquia, meu velho! Devo ir! Se precisar, sabe o que fazer.  – Disse Alba, exausto.
– Obrigado! – Agradeceu Arquia.
– Até mais! – Dito isto, Alba desapareceu numa fumaça.
– Temos problemas – disse Arquia: – E parecem graves! – Retirou da manga de sua túnica uma vara bem pequena, do tamanho de um dedal. Ao pegá-la, deu uma sacudida, a varinha cresceu e tornou-se um cajado, Arquia apoiou-se nele. E acompanhado de Crom seguiu para o templo central de Maltwood, onde encontraram Amiel na sala de reuniões. Ela, ao vê-los, correu em direção ao ancião segurando-lhe as mãos:
– Mestre, graças à luz o senhor chegou! – E olhou para o convidado, surpresa.
– Este é Crom! – Disse Arquia, apresentando-os: – Onde está Ignis? 
 Amiel fez um pequeno gesto de reverência ao visitante, e em seguida respondeu:
– Está com Notus. Vou avisar que o senhor chegou!
Crom olhava fascinado os desenhos nas paredes do salão, enquanto Arquia, através da revelação do oráculo mágico, analisava os fatos: uma nuvem negra acompanhada de relâmpagos e, por fim, fragmentos do planeta Gaia flutuando no universo.  Esta foi à última revelação do oráculo. O Mestre encarou as esferas que circulavam em desarmonia, acima do oráculo mágico.
– O pentagrama foi retirado. É por este motivo que as esferas estão desalinhadas. – Concluiu Arquia.
Crom aproximou-se de Arquia com certa curiosidade:
– Tudo isso significa o que, exatamente?
Arquia respirou profundamente, fazendo um minuto de silêncio, e explicou:
– Crom, olhe para o centro do oráculo. Está vendo esses pontos? São captadores de energia solar. – Arquia ampliou a imagem que se expandiu pelo salão e continuou: – Eles captam, transformam e irradiam a energia do cosmo para a terra, e essa nuvem negra não é uma nuvem comum, ela é uma extensão da escuridão que, se permanecer, aos poucos fará uma redoma ao redor do planeta, bloqueando a entrada do sol, mas isso será só o começo dos problemas... Cessaram as imagens do oráculo, restando somente um nevoeiro. Arquia encarou Crom e completou:
– Sem energia, o planeta não sobreviverá! O desalinhamento antecipa a conjunção planetária, causando mudanças e alterações planeta. A humanidade ainda não está preparada para essas mudanças. Como se não bastasse, quem retirou o pentagrama pode usá-lo para as maiores perversidades. Deixando o mal mais forte!
Arquia olhou em direção a porta e com voz cansada chamou:
– Amiel! – Em seguida, retornou a  atenção para o amigo Crom, e argumentou:
– Devo agir!                              
 Amiel entrou no salão:
– Sim, Mestre?
Arquia encarou Amiel enquanto lhe ordenava:
– Convoque os clãs. Imediatamente!                                        
Amiel confirmou o pedido do mestre inclinando levemente a cabeça. Em seguida, saiu do salão para executar a solicitação do mestre.
Enquanto isso, Arquia pegou uma de suas capas penduradas ao lado da porta e a ofereceu ao amigo Crom, a fim de protegê-lo do mau tempo e dos olhares curiosos dos Elementais. Ambos saíram novamente, desta vez, para irem a Anasazzi, o clã do fogo, local onde Ignis cuidava do enfermo Notus. Crom fascinado com a pequena aldeia de Anasazzi, que mesmo sob o mau tempo resplandecia em chamas. A grande quantidade de crianças e adultos Elementais do fogo remetia Crom ao passado, fazendo-o sentir saudades de uma época em que não vivia só. Enquanto isso, Arquia acenava para os moradores de olhares curiosos sobre seu acompanhante.
O ancião se apressou em atravessar a aldeia, pois mentalmente sentia cada vez mais forte a presença de Notus, fazendo-o parar em frente de uma das casinhas da aldeia. Ao entrar, encontraram Ignis sentada junto à cama do enfermo. Ignis, ao ver o ancião, correu em sua direção:             
– Mestre, graças à luz o senhor chegou! Meus raios não puderam curá-lo! – Disse Ignis demonstrando-se angustiada.
– Deixe-me ver o que posso fazer! – Respondeu Arquia, posicionando-se em pé ao lado da cama de Notus. Em seguida, colocou as mãos sobre o corpo desfalecido, pronunciando mantras de cura:
– Anhata, vishuldha, ajna, sahashara, ham...
Enquanto Arquia fazia movimentos circulares sobre o enfermo Notus. Do centro de suas mãos saíam uma espécie de fio dourados e rosa de diferentes tonalidades. Formando redemoinhos sobre o chakras cardíaco e o chakras frontal entre as sobrancelhas de Notus, Arquia muda o som:
– Om, om...
Mudando o movimento das mãos Arquia liberava a cor branca e índigo, dando origem a redemoinhos grandes nas articulações, nos ombros e cotovelos, nas plantas dos pés e nas palmas das mãos de Notus. Os redemoinhos médios surgiam em volta dos redemoinhos grandes. Um grande número de cores circulava sobre o corpo inerte do enfermo, mas nada parecia funcionar. Então Arquia pronunciou os mais poderosos mantras de cura:
“Choku rei, sei He ki, hon scha ae sho nem, daí, koo, mio...”.
Enquanto proferia cada mantra, fazia as representações gráficas correspondentes. Arquia conseguiu restabelecer a circulação de energia do enfermo. E retirou as mãos do corpo de Notus.
Ignis, mediante a exaustão do ancião:
– Sente-se, mestre! – Disse ela, empurrando a cadeira por detrás do Mestre, fazendo-o se sentar: – A transmutação foi adiada?
– Momentaneamente sim! Ele foi energizado, então temos mais tempo! Precisamos fazer uma poção reversa.
Os badalos do sino ecoaram pela cidadezinha.
– Bem, devo ir! – Disse Arquia, levantando-se da cadeira apoiando pelo cajado: – Vamos, Crom! O Conselho nos aguarda! – Em seguida, voltaram a caminhar lado a lado sob o mau tempo. Próximos do templo central, Crom interrompeu a caminhada, dirigindo o olhar ao amigo,
– Mestre! Obrigada por me salvar dos meus irmãos. Devo voltar à gruta, espero que eles não tenham achado o cristal de Júpiter. Preciso continuar com a comunicação extraterrena! Agora, tenho esperança de um dia voltar a minha família!
– Para a comunicação não é preciso também o cinturão de Orion? – Indagou Arquia.
Crom tirou de sua roupa uma pequena bolsa envolta em um pano, abrindo-o:
– Esse é o verdadeiro e único cinturão de Orion!                                       
– Você...? – Arquia não sabia o que dizer.
– Quando eles estavam distraídos, eu fiz uma pequena troca, hehe. – Completou Crom, gracejando em seguida.
– Você sempre me surpreendendo! Bem, estarei aqui se precisar. Sabe o que fazer!  
O ancião continuou andando ao longo da cidade vazia em direção ao templo central. Os trovões ecoavam produzindo lampejos de luz, evidenciando Sofilis, um velho mago do clã do fogo, que como de costume acendia as lamparinas dos postes da cidade, apenas acompanhado pelas folhas carregadas pelo vento. 
Crom retornou à sua gruta, indo direto à máquina de comunicação, encaixando o cristal de Orion no aparelho na tentativa de fazê-lo funcionar. O aparelho produziu sinais e ruídos que, após algum tempo, permitiram que enviasse algumas coordenadas às naves estelares.
Satisfeito Crom sentou-se, fechou os olhos e aos poucos foi se deitando e transformando-se em um casulo. 







IX– conselho


Arquia apoiando-se no cajado atravessou a cidade. Chegando ao templo de Maltwood, dirigiu-se diretamente ao salão principal, e lá estavam alguns representantes: conselheira Aradia, do clã Ruach (ar), Leonel do clã de Silbury (terra), acompanhado de sua conselheira Taranis, Emigno do clã de Anasazzi (fogo), com seu conselheiro Nazih e, por fim, nereida Nut do clã Glastombury (água), acompanhada do conselheiro Simei. Arquia assim que entrou no salão sentou-se, deu um suspiro, e fitou a cadeira do clã de Belial e disse:
– Só falta Seth!
No instante que terminou de pronunciar a frase, as portas do salão se abriram era Seth, com o semblante carregado e o olhar distante, coberto pelo manto que cobria parte de suas imperfeições, e sentou-se. Arquia neste momento bateu seu cajado no chão, dizendo:
– Que comece agora a reunião! –
As duas bandas da porta do salão se fecharam, e o ancião continuou:
– Todos sabem o motivo desta reunião! – Nut fez um gesto sutil apontando para a cadeira vazia de Notus, ao lado de Aradia, dizendo:
– Notus foi ferido!
Neste instante, os participantes do Conselho ficaram inquietos.       
– E Miso? – Questionou Arquia, fitando a cadeira vazia.
           – Achei que o encontraria aqui! – Respondeu Seth também surpreso com ausência de seu conselheiro.
– Seth, sabe algo a respeito do ocorrido? – Inquiriu Arquia.
Seth, confrontado pelos olhares dos conselheiros, os encarou com arrogância:
– Estou aqui como todos, também quero saber!
– Onde está Miso? – Pressionou Emigno do clã do fogo.
Seth o ignorou.
Arquia apenas com uma batida do cajado no chão fez uso do oráculo mágico, refletindo um holograma, o que fez com que todos se calassem.
O holograma revelou Trevoso, com cabelo lambido e desarrumado de postura encurvada e andar desajeitado, arrastando uma das pernas, entrando apressado no templo dos magos negros indo direto aos porões, e dizia:
– Mestre! Mestre! Mestre Arquia já saiu da cidade!
O arrogante Miso o ignorou, jogou para trás a capa marrom que usava sobre os ombros, e continuou a discursar em bom e alto tom:
 – Venham comigo aqueles que quiserem uma nova ordem!
Mesmo ignorado, os olhos de Trevoso brilhavam sentindo tanta segurança em seu mestre.
– Os que estão comigo? Continuem aqui! Já os outros...! – Disse Miso apontando para a porta. Restaram apenas três Elementais de poderes moderados, sem contar com Trevoso, um dos rebelados que aderiu a causa de Miso, questionou:
– Corremos o risco de sermos denunciados aos clãs? 
Miso, com tudo previamente planejado em sua mente, imediatamente argumentou:
– Não! O código não permitirá! Eu sei o que fazer! Trevoso, pegue seis cavalos e os leve até o templo de Maltwood!
 Enquanto isso, Miso e seus adeptos saíram do templo de Belial e atravessaram a movimentada e ensolarada cidade de Cracia, em direção  ao templo central (Maltwood).
Lá chegando atravessaram as portas do templo. Seguiram pelo corredor, até que Notus, anciões do Conselho avistou os visitantes inesperados, desconfiado imediatamente se aproximou do grupo, o que lhe permitiu ver que se tratava de intrusos:                                                                                                                                                                        
            – O mestre não está! Posso ajudá-los? – Notus fez as honras.
– Preciso ir ao salão de reuniões! – Miso respondeu, esbarrando propositalmente em Notus.
– Não será possível! – Como disse: Arquia não está! – Notus ergueu uma das mãos, bloqueou o salão, fazendo as portas se fecharem.
Miso, diante das portas fechadas, virou-se em direção a Notus e aproximou-se dele, ficou frente a frente. Então, disse:
– Como não? – E empurrou o ancião no chão. E seguiu em direção à porta do salão novamente, desta vez, com a palma de sua mão estendida, evidenciando o símbolo gravado nela. A porta se abriu, e nesse instante, Notus, mesmo caído, tentou impedi-lo de entrar. Estendendo a mão, exclamou o nome do inimigo:
– Miso! – Liberando um fluído das mãos destinado a prender Miso, mas antes que a magia o atingisse, um dos três magos de Belial lançou um poderoso golpe mágico sobre Notus, deixando-o imobilizado. A magia destinada a Miso perdeu-se no ar.
O grupo, então, invadiu a sala de reuniões. Miso, imponente, sentou-se na poltrona de Arquia, e ordenou ao olho que tudo vê:
– Mostre-me o mestre! – O espelho refletiu o mestre Arquia, fato que deixou Miso indignado:
– Não, seu imbecil! O mestre da noite!
O oráculo revelou Mort. Estava em pé, ao lado do oráculo do templo central, preso por uma teia fluídica, aguardando o Conselho proferir a sentença. Nesse momento, Arquia recebe um pergaminho e levanta-se, abrindo-o o lê  proferindo a decisão:
– O Elemental Mort, nascido no clã de Silbury, em cujo clã demonstrou incompatibilidade, foi enviado e efetivamente criado pelo clã de Belial, onde aprimorou seus dons destrutivos e adotou o nome de Sifer, sendo hoje acusado por subtração e tentativa de modificação do curso natural, e como conseqüência causando o caos no reino Elemental. Hoje, será sentenciado a 400 ciclos de lua completos dentro do Circulum! – Após a sentença. O Circulum gerou um redemoinho, sugando Mort  para a prisão do nada dentro do olho mágico.     
Após a revelação do Circulum, Miso levantou-se da cadeira de Arquia, posicionando-se rente ao  oráculo mágico, e ordenou:
– Mostre-me o mestre Mort, agora! – Tudo que o oráculo exibia não passava de uma nebulosa nevoa..  Então Miso se  debruçou sobre o oráculo  aos gritos:
– Mestre Mort, mestre! Mestre! – Mort, preso ao oráculo, vagando pelo mundo do nada, se surpreendeu em ouvir seu nome, e olhou para cima:
– Quem, esta me chama?
Miso debruçava-se ainda mais sobre o oráculo na tentativa de ser visto pelo prisioneiro, respondeu:
– Vim libertá-lo! Agora, me dê sua mão! – Tentando colocar a mão dentro do oráculo e transpassar o nebuloso nevoeiro.
– É preciso quebrar o encantamento. Pegue o livro de capa vermelha, na sala de Arquia! – Mort gritou da prisão.
Miso rapidamente saiu e foi à sala de estudos de Arquia, arrombou a porta e entrou. Frente a estante, derrubou vários livros na tentativa de encontrar o livro de capa vermelha, mas não o encontrou. Por alguns instantes, fitou os olhos em cada móvel da sala. Foi até a mesa e continuou procurando, levantou papiros que continham anotações e desenhos de mapas, sendo que um dos mapas caiu ao chão, chamando-lhe a atenção. Ele o juntou cobiçando desvendá-lo. Sem tempo hábil para ler, o dobrou e colocou-o na manga. Deu mais uma olhada pela sala e viu algo coberto com pano. Aproximou-se puxando de imediato  o pano, encontrando o livro de capa vermelha. Miso o segurou firme, aliviado. Antes de sair da sala, pegou uma das capas que estavam ao lado da porta, jogando-a sobre o antebraço, retornou ao salão principal. Posicionou-se de frente para o olho mágico e abriu o livro à procura do encantamento de liberação. Quando o encontrou, pronunciou: remissionis, remissionis libet. –Tais palavras Provocaram um redemoinho de cima para baixo, que entrou no oráculo dissipando a nevoa e possibilitando Miso agir.
– Mestre, segure! – Disse Miso colocando o braço  dentro do oráculo combatendo a força  que também o puxava para a prisão. O prisioneiro em meio ao redemoinho misturado a nevoa do oráculo mal conseguia ver Miso, mas, com muito esforço alcançou a mão de Miso. Finalmente Miso tinha seu Mestre a sua frente.
– Mestre, minha lealdade é sua! – Disse Miso reverenciando seu mestre, submisso ofereceu a capa que pegara na sala de Arquia.
– Espero que seja! – Respondeu o arrogante Mort. puxando a capa das mãos de Miso, e jogando-a sobre suas costas, fazendo-a mudar de cor, de branca para preta.
– Vamos! Prestes a sair do templo, junto à porta, Sifer parou repentino e exclamou:
– Esperem! – Todos prontamente atenderam ao pedido do mestre, sem entender o motivo. Sifer retornou ao salão, e retirou o pentagrama que circulava acima do oráculo. Neste instante, iniciaram-se relâmpagos e trovões sobre o templo de Maltwood. Notus, paralisado deitado no chão do corredor, fez um apelo mental:
– Mort, não leve o pentagrama.    
Sifer não dando importância ao apelo de Notus continuou rumo à saída do templo central. Antes de sair, parou, virou-se para trás, ergueu a mão fazendo formato da cabeça de uma cobra e praticou sua maldade, e disse:
– Me chame de Sifer!  Experimente isso! – Desferindo um poderoso golpe fluídico. Ferindo Notus gravemente. Miso espantado com tal atitude, o questionou:
– Isso realmente era necessário, mestre? – Diante dos olhos enfurecidos de Sifer, Miso baixou a cabeça, calando-se.
 Sifer, irritado com Miso, jogou a capa para trás dos ombros, e seguiu:     
– Vamos, seu estafermo. – Frente ao templo, encontrou Trevoso segurando as rédeas de seis cavalos. A aproximação de Sifer agitou os cavalos, provocando a fuga de um deles.
Miso irritado com Trevoso, o questionou:
– E agora, seu idiota!
Sifer pegou as rédeas de um dos cavalos, montando-o:
– E simples ele fica! – E saiu galopando.
Cada integrante do grupo montou em um cavalo, e foram em direção ao bosque, deixando Trevoso para trás, que corria desajeitado, arrastando uma das pernas, na tentativa de alcançá-los, suplicava:
– Mestre, não me deixe!
Essa foi à última imagem que o holograma mostrou ao Conselho.
– Já sabemos que foi Miso que libertou Sifer, e qual o feitiço que ele usou em Notus. O que o conselho decide em fazer? – Indagou Arquia.
– Não creio que ninguém do clã de Belial não soubesse? –  Emigno indignado argumentou, encarando Seth.
Seth, sentindo-se traído por Miso e insultado pelo Conselho, levantou se, descontrolado:
– Não vou tolerar insinuações!
– Sente-se, Seth! – Arquia ordenou, encarando-o. – Não devemos olhar para os lados, mas para o caminho que escolhemos trilhar. Infelizmente, Miso e Mort (Sifer) procuraram a Segunda morte. Uma de nossas leis para o caminho da perfeição é não julgar. – O silêncio imperou, e Emigno baixou a cabeça em sinal de obediência.
– Notus é guardião da atmosfera, é o único com poderes de bloquear a nuvem negra e manter o céu limpo. Se a nuvem persistir, haverá o comprometimento no recebimento de energia. Vejam! – Disse Arquia.
A sala ficou escura, o Circulum (oráculo que tudo vê) refletiu no teto um céu mostrando o planeta, Gaia, aos poucos sendo totalmente coberto pela nuvem negra. Arquia explicou:
– Notus trabalha em conjunto com as fadas das nuvens que transmitem luz às florestas. As Náiades, do clã das águas, retiram a energia do sol transmitindo-a as águas, regulando seu  fluxo no planeta. Se a nuvem negra bloquear a passagem da energia solar para o planeta, não haverá luz, e sem luz, não haverá o fluxo das águas, e sem fluxo das águas, o que está vivo morrerá. – A imagem refletida era a de um planeta destruído, sem vida, iluminado apenas por lampejos de fogo vindos de vulcões. Os leitos dos rios eram apenas lama, uma fumaça escaldante era tudo o que restava para o que ainda estivesse vivo. De repente, cessaram as revelações do Circulum, e a sala tornou a clarear.
– O segundo problema ocorreu com a subtração do pentagrama, o que provocou o desalinhamento dos planetas, afetando a órbita de Gaia e antecipando a abertura de portais, o que poderá trazer aberrações. – Explicava Arquia.
– Mestre, mas os portais são bons! – Aradia interpelou-o.
Arquia apontou para cima do Circulum que tudo vê, mostrando os planetas que, nesse instante, se alinharam, e explicou:                 
– Quando os planetas se alinham, ocorre a chamada conjunção planetária, permitindo um fluxo de energia passar entre os planetas, causando a abertura de chakras planetários, ou portões dimensionais, permitindo a transição de seres, entre os planetas. Esperamos daqui algumas luas a chegada dos jardineiros do universo que virão para acelerar o desenvolvimento da humanidade... Mas a abertura dos portões dimensionais neste momento, não é favorável! – Nesse instante, cessou a demonstração dos planetas suspensos, que retornaram ao desalinhamento provocado pela retirada do pentagrama.
– Mestre, só há uma solução, mandar nossos melhores encantadores para reaver o pentagrama. – Nereida Nut propôs a Arquia.
– Todos estão de acordo, ou existem outras opiniões? – Perguntou Arquia a todos. Mas ficaram em silêncio. Arquia, então, levantou sua mão direita:                    
– Quem concorda? – Todos assentiram.
Arquia levantou-se da cadeira, e arrastou o cajado no chão ao redor do oráculo criando um círculo de luzes vermelhas vibrantes, com raios dourados. Enquanto pronunciava o mantra: circum bene dis. O mantra ecoou na cidade expandindo  o círculo de luzes que atravessou as portas, espalhando-se pelo corredor impregnando as paredes. Dando vida aos esculpidos homens com cara de animais, que saiam das paredes invadindo o corredor do tempo de Maltwood.





X – A saída da escola


Enquanto isso, na escola dentro do vulcão, a sirene soou, anunciando aos professores e alunos o término das aulas. As crianças de imediato começaram a arrumar seus pertences. Enquanto a professora Sofia fazia a chamada, invadiu a sala de aula um monstro que pulou sobre a mesa da professora, surpreendendo-a:
– Olá, Amel! – Passado o susto. Sofia fez um pequeno carinho sobre a cabeça do animal, que se deleitava. Antes das crianças começarem a sair, Sofia faz um apelo:
– Um momento, crianças! Esperem! – Pegando a mensagem presa entre as garras do monstrinho. Ao abrir, leu-a em silencio:
Elion, olhando o bichano, fez:
– Hum! Isso não é nada bom!
– O que é aquilo? – Interpelou Sam surpresa.
– Você não sabe? – Inquiriu Elion encarando-a.
– Não, não sei! O que é? Parece um bichinho.
– É uma gárgula. – Relatou Elion eloqüente demais, atraindo a atenção de todos, principalmente da professora, que o encarou:
– Gostaria de dividir algo com a turma?
– Não senhora. Desculpe-me. –Disse Elion acanhado.                          
Após a leitura da mensagem Sofia, recomendou à turma:
– Não parem em lugar algum! Vão direto para suas casas. E façam o dever. Podem ir!
– Já era hora... Não aguento mais essa pirralha! – Comenta Elion, visivelmente aliviado.
– Hora de quê? De que pirralha esta falando? – Retrucou Sam.
Elion estava em pé, de frente a classe, juntando seus papiros. Encarou a menina novamente proferiu irônico:
– Já soou a sirene!
– E daí? –Argumentou Sam, devolvendo o olhar cínico.
– Eu vou embora! Você vai ficar! – Respondeu Elion, indignado com a menina. Porém, Sam levantou-se para sair com ele. Nesse instante, Acro entrou na sala de aula passando entre as crianças que saiam.
– Professora Sofia. –Disse Acro enquanto fitava a classe a procura de Sam, ao vê-la, disse:
            – Ei! Você vem comigo! Arquia nos espera. Vamos!
Quando saíram da caverna do velho vulcão adormecido, avistaram o céu invadido por nuvens negras, acompanhadas de lampejos.
 E apenas alguns raios do sol passavam por pequenas brechas ainda não preenchidas.
 O solo estremecia acompanhado de barulhos. Sam imediatamente questionou:
– Professor, que barulho é esse?
– Já saberemos! –Advertiu Acro. Conforme se aproximavam da cidade, os barulhos e tremores ficavam mais fortes. Sam empacou quando avistou Arquia junto a outros Elementais. E questionou novamente:               
– O que é aquilo?
– São os guardiões de Cracia. Hum! Isso não é um bom sinal. Explicou Acro.
Sam, fascinada, fixou os olhos no exército de minotauros que, mesmo de longe, pareciam enormes.
– Nossa, eles são iguais àqueles das paredes do templo. – Exclamou Sam, surpresa.
– São eles mesmos. Precisamos ir, vamos! – Disse Acro, preocupado. E desceram a estrada em direção a Cracia. Encontrando Arquia, frente ao templo de Maltwood, dando as últimas instruções aos minotauros:
– Vocês estarão sob o comando de Faliha, Deleon e Nazih. – Dito isto, aproximou-se dos três fiéis amigos, instruindo-os sobre a missão:
– Peguem-no, irão precisar! Estendeu as mãos, entregando-lhes um pergaminho.                         
Deleon questionou em seus pensamentos: “para que serve o pergaminho?”.
–Ele é tudo que precisarem que ele seja, devem utilizá-lo somente em ultimo recurso. Miso é perigoso, mas não se compara a Sifer. Sua perversidade é estupenda, e todo cuidado é necessário nesta missão. Vocês devem trazer o pentagrama intacto. Agora vão!

 


XI – O reino de silbury


Arquia de frente ao templo de Maltwood, com o olhar distante, fitava as últimas imagens dos encantadores junto ao exercito de minotauros desaparecerem no bosque.
– O que está acontecendo? –Indagou Sam.
Arquia, preocupado, informou à menina:
– Não sei pequena, se você entenderia, mas vou tentar explicar. Olhou a garotinha e estendeu sua mão:
– Vamos! – Sam, segurou-lhe firme na mão, fazendo-o sentir que ela confiava nele.
– Aonde vamos? – Quis saber ela, curiosa.
–Ao clã de Silbury, o clã da terra. Vamos, professor? –Disse Arquia.
– Acho melhor não! Mais tarde nos falamos! – Soltando gentilmente a mão da menina.
– Até mais! – Despediu-se Acro.
Arquia e Sam foram ao templo de Silbury, Elementais da terra. Na entrada do templo, Arquia fitou o céu, agora tomado de nuvens escuras acompanhado de raios mais intensos sobre a cidade. Então, suspirou:
– Chegamos!
Sam querendo saber mais, encarando-o de baixo:
– Chegamos num monte de areia! E agora? Aonde vamos?
– É isso aí! – Exclamou Arquia, caminhando em direção à barreira de areia e atravessou, ficando de fora apenas uma parte do braço que segurava firme na mão da menina, que ao vê-lo sumir através da areia, puxou-o com força na esperança de tirá-lo, enquanto ele a puxava para dentro. A força de Arquia prevaleceu, e ela atravessou o portal de areia, indo parar dentro do corredor do templo de Silbury. Um homem de cabeça calva e bem arredondada, sobrancelhas grossas e assustadoras, veio em direção a eles, recebendo-os calorosamente.                      
– Que bom que chegaram!
Arquia retribuiu o caloroso abraço de seu velho amigo:
– O prazer é todo meu de estar aqui! É lamentável não conseguir vir mais vezes. – Ao término do cumprimento, Arquia continuou:
– Sam, este é o guardião da vida, Mestre Leonel.
Leonel olhava a menina, encantado:
– É tão pequena e com uma responsabilidade tão grande... Mas siga-me, o tempo é primoroso.
Seguiram ao final do silencioso corredor, onde uma gigantesca porta de madeira com desenhos esculpidos diferentes do templo central se abriu sem mesmo Leonel tocá-la.
– Por favor, entrem! – Disse Leonel fazendo as horas aos convidados.
Ao adentrar a sala a primeira impressão era a de que havia uma enorme bagunça barulhenta. Sam, vendo tantas crianças pequenas, arregalou os olhos:
– Puxa, parece o C.A. da minha escola.
– Vamos nos sentar ali! – Sugeriu Leonel. Então, acomodaram-se junto à antiga mesa de madeira.
Arquia, surpreso com a palavra C.A., indagou a Sam:
– O que é C.A.?
Sam, boquiaberto com a pergunta, encarou o ancião, replicando:
– Você não sabe mesmo?
Arquia respondeu virando o rosto de um lado para o outro. Sam deu um suspiro seguido de um sorriso, e explicou:
– É onde as crianças aprendem a desenhar e brincar com outras crianças. Escrever também.
– Agora sei! Aqui se parece com o C.A.! – Respondeu Arquia, gracejando, mas compreendendo o que ela quis dizer.
Já acomodados à mesa, Leonel puxou assunto com Arquia, deixando a menina mais à vontade. Sam aproveitou o momento para apenas observar. Entre um olhar e outro, sorria. Uma linda ninfa de cabelos negros e longos, enfeitados de flores azuis, vestida com tecidos compridos e esvoaçantes, de verdes contrastando entre claro e escuro, com detalhes em rosa de vários tons no vestido, explicava pacientemente a um pequeno Elemental, que tocava a ponta do dedo em um vaso, fazendo uma planta crescer.
Leonel percebendo o interesse de Sam a aula, levantou-se da cadeira, decidido a fazer as apresentações:
– Venha, Sam! – Ambos se aproximaram da linda ninfa.
– Professora Taranis, esta é Sam. Sam, esta é a nossa professora Taranis! –
A professora se abaixou e esfregou a ponta de seu nariz na ponta do nariz de Sam, dizendo:                        
– Beijinho de gnomo, hehe. – Assim que a beijou Taranis, segurou na mão da menina:
– Venha! Vamos praticar com os outros, enquanto os mestres conversam.
Taranis levou Sam para uma das paredes cheia de plantas, que subiam e desciam o tempo todo. E aproximando-se das crianças, questionou:
– Crianças, já conseguem dominar o dedinho indicador? – As plantas de uns cresciam, enquanto as de outros pareciam não querer crescer. Taranis se aproximou de uma das crianças que não conseguia fazer crescer a plantinha, segurou o dedinho da criança sobre a planta e disse:
– Nabut, você só tira o dedinho indicador quando a planta estiver do tamanho que você deseja, está vendo?  – A planta cresceu. A professora soltou da mão de Nabut e recomendou:
– Agora, faça sozinho!
O menino colocou o dedo e tirou, a planta cresceu e parou, colocou o dedo novamente e tirou a planta cresceu mais um bocado e parou. Taranis satisfeita com aprendizado de Nabut afastou-se e continuou mostrando a Sam as demais atividades da classe:
– Venha, Sam! Aqui nós aprendemos a dominar os dons, sem tocar as plantas.
Somente com o movimento das mãos as plantas desabrochavam, cresciam girassóis, rosas, margaridas, orquídeas, Hortência... Era tudo mágico e lindo. Sam não fazia outra coisa a não ser observar com atenção cada movimento das mãos de Taranis, e os imitava, sem tocar em nada. Quando Taranis olhou a parede em frente, viu uma trepadeira que cresceu estupendamente graças a Nabut, que tocava a planta sem retirar o dedo. Imediatamente Taranis foi à trepadeira, constatando que Acab usou o toque das plantas para hipnotizar seu irmão Nabut, já quase roxo por não respirar. Taranis rapidamente afastou os irmãos, e retirou o dedo de Nabut da planta que, no mesmo instante, parou de crescer. Em seguida ajoelhou-se a sua frente, olhando-o nos olhos, tocou as mãos sobre a palma das mãos do menino, transmitindo-lhe energia vital, e pronunciou:
– Nunc solutus. – Fazendo-o respirar e retornar a sua cor natural.
Por ultimo, Taranis estendeu a mão em direção à trepadeira e disse:
– Decrescit!
Rapidamente a trepadeira diminuiu de tamanho, voltando ao normal. Após resolver todos os problemas, Taranis deu novamente atenção a Sam:
– Tente! Você consegue. Basta usar o dedinho indicador.
Sam não pensou duas vezes. Foi até a trepadeira e colocou seu dedo. Ficou tão entusiasmada, pois podia fazer o mesmo que as outras crianças... Colocava e tirava o dedo, a trepadeira ia crescendo, parando, crescendo, parando...
Taranis advertiu a menina:
– Você está se sentindo cansada? – Cada vez que faz uma planta crescer, você perde energia.
– Só eu perco energia? – Sam indagou bastante intrigada.
– Não! Todos que usam algum tipo de dom perdem energia. Por isso os dons devem ser usados com sabedoria e somente quando necessário. – Respondeu a dócil professora.
Soou um sinal que parecia um uivo de um lobo. Taranis, no mesmo instante, bateu palmas chamando a atenção das crianças, dizendo:
– Criançada, nossa aula acabou por hoje. Não se esqueçam de praticarem o que aprenderam.
As crianças se despediram de Taranis, e foram saindo aos poucos, enquanto Sam brincava com as plantas, fazendo-as crescer.
Após todas as crianças saírem, Sam aproximou-se da mesa de Leonel e Arquia que conversavam.
– Você está gostando? – Arquia indagou a menina.
– Sim. – Sam respondeu cabisbaixa, sentando-se.
– Como se faz para diminuir as plantas? – Questionou Arquia, no que foi prontamente auxiliado por Taranis:
– Sam, você as faz crescer com o indicador direito, e as faz diminuir com o indicador esquerdo. – Na mesma hora, Sam apontou seu indicador esquerdo para a planta, mas nada aconteceu.
– Assim, a essa distância, só se pronunciar algumas palavras mágicas, ou o dedo deve encostar-se à plantinha. – Sam foi até a planta, usando o indicador esquerdo a fez diminuir. Leonel pressentindo algo errado, indagou:
– Taranis o que lhe preocupa?
– Se Acab continuar com suas brincadeiras maldosas... – Taranis respondeu, com semblante triste.
– Não se preocupe, pois logo saberemos se ele realmente está preparado para ser de Silbury, ou mudar para Belial! –Argumentou Leonel, eloqüente.
Arquia, encarando a professora Taranis, disse:
–Todos podem mudar estagnar, mas nunca regredir. O tempo é o nosso melhor conselheiro!
Levantando-se da cadeira, Arquia olhou para a menina, e disse-lhe:
– Sam! Você tem muito para aprender. Leonel e Taranis vão ensiná-la os poderes da terra. Agora, preciso retornar a Maltwood! Até mais meus amigos!
Dito isto, caminhou em direção à porta, cruzando com Elion, que chegava apressado ajeitando a túnica enquanto reverenciava Arquia, baixando levemente a cabeça:
– Mestre!
O mestre também o cumprimentou com uma pequena reverência:
– Elion.
Elion se aproximou da mesa, deparando-se com Sam sentada à mesa, estarrecido cumprimentou seus professores:                  
– Professor Leonel, professora Taranis! – Em seguida, sentou-se.                 
– O que você está fazendo aqui, pirralha? – Indagou Elion indignado.
– Não sei. O mesmo que você? – Respondeu Sam.
Elion com a resposta da menina levantou os olhos, a que se seguiu um suspiro.







XII – Estátua de gelo


Nazih e Faliha acompanhavam os minotauros ao longo do bosque. Lampejos iluminavam por alguns instantes a densa mata fechada. Nazih acendeu-se como sol, iluminando efetivamente o caminho. Após horas de caminhada, exaustos eles decidiram acampar. Nazih acendeu a fogueira, e apagou sua luz, indo sentar-se próximo a Faliha. Enquanto falavam, Deleon pairava como vento, buscando os perversos, encontrando-os alguns quilômetros à frente, sentados junto à fogueira, Deleon como suave brisa estava sobre o acampamento dos fugitivos, com desejo de abordá-los, mas lembrou-se da advertência de Arquia. Então, continuou pairando sobre o grupo de fugitivos, na esperança de ouvir seus perversos planos.
– Amanhã partiremos rumo ao monte Hermon. – Disse Sifer.
– Mas o caminho é estreito demais, e perigoso. Devemos ir pelo portal das sombras. – Alertou Miso.
– Sabe o que há no monte? – Disse Sifer, olhando para os lados, como se algo estivesse errado. Em um tom de voz austero, ordenou aos discípulos:
– Vocês! Vão pegar lenha!
Miso, sem entender, retrucou:
– Não é necessário lenha! Usamos nossos poderes.
– Sifer, indignado, o desdenhou:
– Seu tolo!
Os discípulos chegaram com pequenos gravetos.
– Joguem no fogo! – Sifer ordenou, e olhou acima da fogueira. Quando a lenha começou a queimar, a fumaça revelou o rosto de Deleon pairando sobre eles. Assim que foi descoberto, Deleon bateu em retirada, em busca do acampamento dos amigos.
– Eu sabia que algo nos espreitava! – Disse Sifer confiante, e começou a rir descontraído. Mas o bom humor durou apenas alguns instantes. Logo ele voltou a seu habitual  mau humor:
– Agora, descansem. Amanhã será um longo dia.
Deleon chegou ao acampamento, e materializou-se ao redor da fogueira, junto aos amigos que compartilhavam um elixir. Nazih o ofereceu ao recém-chegado Deleon que, enquanto bebia, contava aos amigos os planos do sinistro Sifer:
– O acampamento deles está apenas alguns quilômetros à frente. Eles pretendem subir o monte Hermon. Quando iriam revelar mais detalhes, fui descoberto. – Faliha rabiscava o chão enquanto ouvia Deleon. Ao fim da narrativa, Faliha pegou uma pedra, e explicou aos amigos o desenho que fizera ao chão:                
– Se forem ao monte, que fica aqui – colocou a pedra e percorreu o caminho do desenho feito no chão com um graveto: eles passarão pelo leito do rio, que está aqui! – Dito isto, marcou com um X. 
– Nós! – Faliha, desviou o olhar do desenho no chão, encarando os amigos. E continuou: – Se formos pela floresta das ilusões, chegaremos à subida do monte antes deles.

Na manhã seguinte, no acampamento dos perversos:
– Vamos, seus preguiçosos! – Ordenou Sifer, cutucando com o pé os discípulos deitados.                 
Miso, antes de prosseguir viagem, verificou as bolsas de água:        
– Mestre, nossa água está terminando. – Advertiu Miso.
– Não há problema! Seguiremos pelo leito do rio, vamos! – Sifer respondeu.
Seguiram viagem através da mata em direção ao rio. Miso, descontente pela escolha do caminho, tentava argumentar durante a caminhada:
– Temos que nos apressar! E se eles chegarem antes ao monte?
Sifer atento à sugestão parou de caminhar, jogando-se à frente de Miso e encarando-o nos olhos, disse:
– Mesmo que cheguem antes no monte, seus poderes serão praticamente nulos, porque eles não têm o pentagrama, eu tenho o pentagrama.     
 Chegado ao leito do rio, Miso ordenou aos discípulos:
– Encham as vasilhas! – Sifer aproveitou o momento e se afastou do rio à procura de raízes de árvores que nasciam somente nas proximidades daquele rio. Miso o seguiu, a fim de ajudá-lo, se necessário. Enquanto os três discípulos ajoelhados à beira do rio mergulhavam as vasilhas dentro d’água, o movimento das águas mudava de direção. Os discípulos emergiam as vasilhas e as colocavam novamente submersas, na tentativa de enchê-las, mas a água não entrava nas vasilhas. Foi então que um dos discípulos disse:
– Vamos entrar?
Os discípulos entraram no rio, ficando a alguns centímetros da margem. Novamente se abaixaram mergulhando as vasilhas dentro d’água, que continuavam a mudar de direção. As águas tornaram-se redemoinho entre os pés dos discípulos, que foram sugados para o meio do rio. Desesperados, os discípulos se debatiam, na tentativa de saírem do redemoinho enquanto gritavam por socorro:        
– Mestre! Mestre! Ajude-nos!
Os gritos chamaram a atenção de Miso, que prontamente correu em direção ao rio, deixando Sifer para trás. Enquanto Sifer com curtos passos e despreocupado retornava do bosque, trazendo consigo algumas raízes de árvores. Ate que avistou de longe Miso a beira do rio levantar a mão em direção aos discípulos que se afogavam, puxando-os do redemoinho até a margem. Sifer, indignado com os fatos, largou as raízes ao chão e apressou o passo, estampando uma fisionomia ainda não conhecida pelos demais. Aproximando-se do rio, gritou:
– Nifeia, sua... Apareça, vamos! Apareça! É uma ordem!
Nifeia não deu as caras. Continuou dentro de sua gruta de madrepérolas, sentada em uma pedra, cantarolando, fingindo nem ouvir os intensos gritos de Sifer. Mas toda essa gritaria chamou a atenção de Migdy, uma sereiazinha curiosa, que colocou a cabeça fora d’água para ver o que se passava. Sifer, vendo a sereiazinha, deu um sorriso irônico, e disse:
–Você não vem, Nifeia? Essa serve! Vitale est potestas mea.  – Estendendo a mão com os dedos entreabertos em direção a sereiazinha, e  fechando a mão vagarosamente trazendo-a em direção ao peito. Sugando aos poucos a vitalidade de Migdy, que sentindo tudo ressecar olhou para as mãos que enrugavam  e, instintivamente, olhou-se no reflexo da água, vendo seu rosto envelhecer, apavorada leva o às mãos no rosto, dando um grito desesperado:
– Nãooooo!
Nifeia espiou entre as fendas da parede da gruta, vendo  Sifer com os braços entreabertos se deleitar com o fluído da sereiazinha.
– Ah, eu precisava disso! É revigorante! – Disse Sifer aliviado.
– Nifeia enfurecida saiu da gruta, cantou com um som de mil sereias, provocando que inúmeros pássaros do bosque voassem assustados. E mergulhou no rio, levantando sua enorme calda azul, e lançou um jato d’água capaz de transmutar o Elemental. Antes que o jato d água chegasse a Sifer, ele, estendeu a mão e o congelou em pleno ar. Nifeia, foi congelando gradativamente, até o gelo se expandir pelas águas do lago, e atingir todas as ondinas, as quais tentavam fugir, mas eram alcançadas pelo gelo. Migdy, Nifeia e as outras sereiazinhas se transformaram em estátuas de gelo dentro do rio completamente congelado. Miso observou o feito de Sifer com reprovação:
– Mestre, por quê? O caminho será longo. Precisamos de água!
Sifer, com uma postura bastante arrogante, ignorando Miso, sussurrou: – Não preciso seres inferiores!
Miso, pela primeira vez, enxergou a face de Sifer. Baixou a cabeça, desolado juntou-se aos demais discípulos. Durante horas, permaneceu calado a meditar, lembrando-se das histórias contadas sobre os feitos do perverso e impiedoso Sifer, que destruía tudo e todos que o desagradassem. Debaixo daquela capa se escondia, mais que um corpo mirrado.








XIII – Floresta das ilusões


Deleon, Nazih e Faliha chegaram à entrada da floresta das ilusões, a fim de pedirem permissão aos seus guardiões para atravessá-la. Faliha chamou:
– Himalia! Himalia!
– Faliha, há quantas luas! – Disse a linda ninfa materializando-se frente a ele. Ela de aproximadamente um 1.40cm, olhos amendoados, pele delicada e sutil, quase transparente. Irradiando luze rosa cintilante. As orelhas pontudas seguravam parte de seus cabelos longos e mechados para trás. Eles se abraçaram, e Faliha, por alguns instantes, pareceu esquecer-se do motivo que os levou ali. Nazih tomou a frente e foi logo explicando:
– Precisamos de sua ajuda!
– O que posso fazer para ajudar? – Indagou Himalia.
Faliha, despertando do torpor, respondeu, já fazendo as apresentações necessárias.
            – Atravessar a mata! Este é Nazih, aquele é Deleon! –Himalia não deu importância às apresentações, demonstrando forte interesse no pedido:
– Aqui não é permitida a passagem, a menos que... – Enquanto dizia, Nazih se intrometeu na conversa:
– Precisamos chegar antes de Sifer na entrada da colina dos ventos, pois é o caminho mais curto.
 Himalia atenta às explicações do preocupado Nazih:
– Tem há ver com aqueles trovões que estão se aproximando?
– Isso mesmo, a nuvem logo trará a escuridão! – Respondeu Nazih.
– Estão atrás do pentagrama, não é? – Himalia buscava explicações.
 – Sim! É nossa única saída. –Afirmou Faliha, bastante esperançoso.
– A única forma de atravessarem a floresta é possuir um bom motivo e ser convidado por um habitante da floresta. Sendo assim, vocês possuem um bom motivo, porém, apenas um de vocês poderá ser convidado para atravessar. Quanto aos outros, não poderei ajudar, a não ser que queiram enfrentar a grande fúria do desconhecido. – Himalia infelizmente teve de alertá-los da condição para que desconhecidos entrem na floresta.
– Não, que é isso... – Intrometeu-se Deleon. –Depois, continuou: – Não se preocupe! Nazih, você vai pelo leito do rio com os minotauros, enquanto eu vou pairando; Faliha, você atravessa a floresta. Nós nos encontraremos na entrada da colina dos ventos, antes da subida do monte Hermon.
Todos concordaram com Deleon, e despediram-se. Antes que Faliha entrasse na mata, Himalia jogou folhas secas sobre sua cabeça, pronunciando um cântico de proteção, quod elementa sint vobiscum. –E lhe ofereceu uma das rosas que enfeitavam seus cabelos. Em seguida, Himalia chamou em forma de cântico:
– Ixia! Ixia!...
Antes que chamasse pela terceira vez, surgiu na mata uma fada bem pequena, parecendo mais um vaga-lume, toda serelepe voando de um lado a outro. Enquanto Himalia a acompanhava com os olhos, a fadinha dizia:
– Ixia, Ixia! Tudo é euzinha! Coitadinha, sou tão pequenininha! – Com as mãos na cintura e fisionomia de zangada, continuou sua explicação:
–Eu já disse! Basta chamar uma vezinha só, eu tenho ouvidos, sabia?! – Após o discurso da fadinha, Himalia replicou:
– Você não viu que estamos com visita? – Ixia ficou sem jeito, arrumou a saia de folhas, mexeu em seus cabelos, por fim encarou o visitante, piscou os olhos e, com um suspiro apaixonado, disse:
– Oiiiiiii! Puxa, ele é lindo!
Himalia com voz doce falava com a fadinha:
– Quero que o acompanhe pela mata adentro, e qualquer problema, me chame. Isso se você puder ajudar, é claro.
– Eu? – Respondeu Ixia, surpresa.
– Sim, você! – Replicou Himalia.
– Mas sou tão pequena e indefesa. – Comentou Ixia.
– Quem é a mais corajosa, a mais rápida, a mais linda e esperta também? – Perguntou Himalia, tentando convencer Ixia a ajudar seu amigo.
– É claro que sou euzinha, hehe. Está bem! Eu ajudo, mas com uma condição!
– Eu já até sei, você quer...
– É isso mesmo, eu quero só um pouquinho. – Respondeu Ixia, satisfeita.
– Mas, se eu lhe der um pouquinho do meu pó mágico, vai usar para tarefas nobres? – Questionou Himalia.
Ixia, batendo as asas, aproximou-se do ombro de Himalia, colocou a ponta do dedo no nariz e disse:         
– Eu prometo! Palavra de fada! Aliás, ele é...
Himalia interrompeu a fadinha, jogando um pouco do pó mágico sobre ela, e disse:
– Ixia, as fadinhas são educadas.
A fadinha, reluzindo devido ao pó mágico:
–Estou revigorada! Vamos, lindão!  Mas ele é um gato mesmo... Fui! Hehe. – E entrou mata adentro.
Antes que Faliha entrasse na mata, Himalia segurou-lhe na mão, recomendando:
– Nem tudo que você vê é real. Acredite somente nas coisas que você quer ver. Agora vá!
Ixia retornou da mata:
– E aí, você não vem?
– Vá Faliha. Meus pensamentos estarão contigo! – Disse Himalia soltando-lhe a mão.








XIV– Origem


No templo de Silbury.
– Sam, posso ver seu sinal? – Perguntou Leonel à menina, que prontamente lhe mostrou o pulso e disse: – Esta é minha mancha.
Leonel analisou de vários ângulos:
– Parece uma árvore! – Disse ele, enquanto examinavam tentando decifrar o desenho:
– Taranis, o que você acha? Olhe!
 Taranis olhou atentamente, e respondeu baixinho:
– Eu já vi esse desenho! Onde eu o vi? Hum... Espere um minuto!
 – E foi até uma velha estante, repleta de papiros e livros
empoeirados, à procura de um livro em especial, apontando o dedo indicador para cada livro enquanto a outra mão tentava retirar a poeira e teias dos livros:            
– Esse não, não, também, vai ver... Ah! Você está aqui, venha! – Taranis se esticou e ficou na ponta dos pés, não conseguindo alcançar o livro, proferiu uma palavra mágica :  
– Levatum! – Levitou alguns centímetros até alcançar o livro. Em seguida, disse:
– Descendit terram. – E levitou até os pés tocarem o chão novamente. Segurando o livro, voltou à mesa, abrindo-o o folhou, e eufórica:
– Já sei! É a árvore cósmica, considerada o centro do universo.
– É isso, a árvore Yggdrasil! –Afirmou Leonel, todo entusiasmado. – Isso é estupendo! É maior do que podíamos imaginar. Ela realmente é descendente de Simon.
Leonel aproveitou a distração da menina, que conversava com Elion, e sussurrou a Taranis:
– Só que mais poderosa!
Taranis não hesitou em mostrar sua preocupação, pois eram muitos poderes para uma garotinha tão pequena:
– É, veremos realmente qual é a sua verdadeira natureza.
Mestre Leonel calou-se por alguns instantes. Segundos mais tarde, chamou:
– Crianças! Vamos estudar!  A mágica sai de dentro do seu coração, a maior magia é do amor. –Ensinou o ancião de Silbury (clã da terra) aos pupilos.
– Eu posso fazer mágica? – Disse Sam curiosa: – Eu acho que estou sonhando!
– É magia! Não isso ai! – Retrucou Elion.
Leonel percebeu que a menina, naquele momento, não sabia quem era, e decidiu explicar:
– Vou lhe contar uma história: Cracia nem sempre foi uma cidade pacata. Há muito tempo atrás havia dois irmãos, embora os dois tivessem nascido em Silbury, um não pertencia de fato ao clã. Assim, quando ficou maior, foi revelada a sua verdadeira natureza. Ele não suportava permanecer em seu clã de origem, pois seu nível vibratório não era compatível com o dos demais, fazendo-o passar mal. Então, ele foi para o clã dos magos de Belial, tornando-se um mago muito poderoso, mas sua ambição o deixou extremamente perverso. Tão perverso que um dia roubou o pentagrama do templo central de Cracia, e abriu o portal de Annwn, a cidade dos sonhos, que separa o reino Malkuth do reino dos humanos. Esse Elemental de natureza bizarra atravessou os portais, chegando ao mundo dos humanos com o desejo de governar a humanidade, mas havia um Elemental com poderes idênticos capaz de neutralizá-lo. Seu próprio irmão, que o seguiu até o mundo dos humanos, recuperou o pentagrama e o capturou, trazendo-o a Cracia, onde o conselho o aprisionou. Mas o bom jovem ao regressar da missão, solicitou ao Conselho a permissão para deixar Cracia. O Conselho o advertiu de que perderia sua imortalidade, e possivelmente não poderia voltar a Cracia. Mesmo assim, o jovem Simon decidiu viver entre os humanos. Ele havia se apaixonado. Você, Sam, é neta do poderoso gram. Mir Simon. Possui poderes como os de seu avô.
Sam compenetrada na história, entristecida, disse,:
–Tenho saudade do meu avozinho. Mas então eu posso fazer... Mágica! Uau...
– Não é propriamente mágica, mas magia de usar os dons, e quanto mais você usa o dom maior ele se torna. No entanto, como tudo na vida, deve ser usado com equilíbrio, ou ele pode nos destruir, pois toda ação tem uma reação. – Explicou Leonel pacientemente.
Elion estava encantado com a história. A fim de chamar sua atenção, Leonel questionou:
– Onde paramos na aula passada?
Elion todo entusiasmado abriu sua bolsa, retirando dela alguns papiros, colocou-os sobre a mesa e respondeu altivo:
– Leis da hermenêutica, mas, Mestre Leonel, hoje eu encontrei o portal de Argatha.
– E vimos um trotrou. – Sam se intrometeu.
– Troll! – Elion corrigiu a menina.
– Isso aí. Troll! – Retrucou Sam.
– Como? – Questionou Leonel, surpreso.
– Nós nos perdemos pelas cavernas da montanha. – Respondeu Elion, encarando a menina.
– Isso é ótimo! Descobriram o caminho de Stanhengue, muito bem! Embora isso seja mais um problema. Continuemos com as leis da hermenêutica! – Proferiu Leonel.
– Er. O quê? – Sam parecia confusa.
Elion tirou os olhos do papiro e respirou profundamente pronunciando pausadamente:
– Her-me-nêu-ti-ca! Quantas luas você tem, pirralha?
– Eu não sou pirralha, não tenho lua nenhuma, tenho sete anos! E você? – Retrucou Sam.
– Eu vou completar 16 luas. – Elion respondeu arrogante.
– Você é velho! – Disse Sam gracejando dele.
– Não sou velho nada, velho é... – Elion retrucava, mas foi interrompido pela menina.
– Arquia?
O menino deu um suspiro encarando a menina, que furtivamente olhou para Leonel.
– Bem, eu tenho muitas luas, com muito orgulho! Arquia deve ter umas três luas a mais que eu. – Leonel intrometeu-se na conversa.
– E Taranis? – Quis saber Sam.
– Não é gentil perguntar o número total de luas dos Elementais. Para saciar sua curiosidade, tenho 358 luas! – Taranis revelou.
– Eu tenho sete anos! – Disse novamente Sam.
– Uma lua completa corresponde a sete anos no mundo dos humanos. Então, pequenina, você tem uma lua completa. – Explicou Taranis.
– Vamos continuar nosso aprimoramento. – Interrompeu Leonel. – Estávamos falando sobre as leis. Qual é a primeira?
Elion, novamente verificando suas anotações, respondeu:
– Mentalismo.
– Tudo começa com o pensamento. – Explicou Leonel: –E a segunda?
– Lei da correspondência. – Respondeu Elion.
– Isso mesmo, tudo que está em cima está em baixo. –Disse Leonel: – Isso nos leva à terceira, que é...
– Lei da vibração, segundo a qual nada esta parado, tudo se move. – Respondeu Elion de imediato.
– Muito bem, Elion. Fez seu dever de casa! A quarta lei é a da polaridade. Tudo tem os dois pólos. A verdade tem os dois lados, masculino e feminino. – Ensinou Leonel.
A menina começou a rir baixinho, provocando riso em Elion. Neste instante Arquia entrou apressado na sala de Leonel. Interrompeu a aula e foi direto ao assunto de vital interesse:
– Leonel, você tem em sua sala de poções um vidro com sangue de dragão? Quando cheguei ao templo central, fui direto à sala de poções à procura de alguns ingredientes. Abri vários vidros da prateleira, separei algumas ervas, mas a erva principal não é o suficiente para a poção. Por isso retornei a Silbury.
Na mesma hora, Leonel levantou-se para atender o amigo:            
– Professora Taranis, a senhora fica com as crianças. Continue a ministrar a aula!
Leonel e Arquia caminharam em direção à saída da sala rumo ao corredor que os levou a várias outras portas, sendo que uma delas era a porta da sala misteriosa de Leonel:
– Um vidro contendo a planta talvez, não há certeza. Mas viva? Hehe. Vamos até meus guardados.
Leonel chegou à porta de sua sala e retirou do cinturão uma chave, colocando-a no buraco do cadeado. Ao virá-la, fez-se um forte clarão. Arquia começou a rir:
– Você ainda usa esse truque?
– É, mas isso ainda funciona aqui, as crianças temem a luz do cadeado, mas logo, logo saberão que é uma simples brincadeira. Venha! Vou compartilhar meu segredinho. – Disse Leonel, conduzindo o amigo à parede de tijolos que se afastaram uns dos outros, abrindo como uma porta de correr, levando-os a um corredor escuro e sombrio. No corredor, Arquia admirava os desenhos nas paredes, decifrando-os:          
– Cruz de Malta, cruz de Tao, cruz de Anu, cruz ansata, cruz em X, talvez a mais importante, demonstrando a união entre os mundos superior e inferior.
 Antes que Arquia tecesse comentários mais profundos sobre as cruzes, Leonel o chamou:
– Arquia, venha! Finalmente vou compartilhar meu segredinho. – O portão de grades se abriu, levando-os à sala especial com inúmeras prateleiras e milhares de potes cobertos por teias de aranhas. Arquia, fascinado pela quantidade de potes, exclamou:
– Aqui deve ter a planta!
Os vidros e as prateleiras tremeram como se houvesse um terremoto, a sala movimentou-se mudando de lugar, a porta encaixou-se em uma passagem secreta que, ao abrir, revelou luzes vindas de cristais que cobriam a estufa com diversos vasos de plantas penduradas como trepadeiras. Leonel, entusiasmado por surpreender o amigo, só o observava. Arquia mais encantado do que nunca, por ver tantas plantas preciosas reunidas em vasos num único lugar, imediatamente começou a proferir o nome de cada uma delas:                 
– Hypericum canariense, Cardamono, Cedranella, Lycium barbarum, Flome vine, Anni visnaga, Narciso, Madressilva, Mandrágora, Romã... Que maravilha, isto é estupendo. Eu não me lembrava de que havia tantas, mas ainda não encontrei o sangue de dragão. Espere! Será esse pequeno galho?
Leonel foi até o pequeno vaso, encontrando a muda seca:
– Pelos sóis! Ainda ontem eu a reguei, agora isso!
O fato o deixou triste. Não tendo mais como ajudar seu amigo, Leonel calou se:
– Espere! – Pegou o pequeno vazo e continuou:
– Se a raiz estiver viva, eu... – Retirou a raiz da terra. E decepcionado disse:
 – Ela está morta! Agora só... – Encarando o amigo sugeriu uma solução.
– É onde estou pensando? – Indagou Arquia. – Leonel com  um pequeno gesto, confirmou.





XV – Floresta do suspiro


É para lá que iremos. – Disse Leonel.
 Eles retornaram à sala de aprendizagem junto a Taranis com a finalidade de programarem sua próxima aventura: a floresta do suspiro.
– Sam, você virá comigo! Você é minha responsabilidade! Elion vá com Taranis à procura de Aradia, e peça para preparar os cavalos. Diga que ela irá conosco, e você também irá, Elion! – Ordenou Arquia.
No dia seguinte, reuniram-se Arquia, Leonel, Sam, Elion, Taranis e Aradia e seguiram sobre os cavalos pela estrada de chão com pequenos trechos de grama cobertos por neve. O dia havia se tornado noite, relâmpagos ecoavam fora dos limites da cidade de Cracia, as montanhas ao redor estavam parcialmente cobertas de neve, o vento frio estarrecedor atravessava o manto dos viajantes, fazendo-os tremer. Taranis calorosamente ajeitava o manto que Sam ganhara de Arquia enquanto cavalgavam juntas, a fim de protegê-la do frio. Esse era o único caminho que os levaria à floresta do suspiro. Os cavalos, após andarem alguns quilômetros, começaram a apresentar sinais de exaustão e dificuldades para respirar. O cansaço era presente em cada componente do grupo. Chegado próximo da beira do córrego.
– Parem! Prosseguiremos a pé. – Disse Arquia descendo do cavalo:
            – Vá meu amigo! – Complementou Arquia acarinhando o eqüino Léguas. Após a partida dos cavalos. Arquia cuidadosamente posicionou-se para atravessar o córrego tocando o cajado no chão, fazendo-o reluzir, evidenciando as pedras que ora estavam emersas, ora não. Já do outro lado do córrego, esticou a mão:
– Vamos, Aradia venha! Devagar, está escorregadio. A água está congelando. – Alertava Arquia.
Aradia atravessou o córrego, sendo seguida pelos demais integrantes do grupo, um de cada vez.
– Estão ouvindo? – Questionou Leonel.
– O som do berrante vem de lá! – Disse Arquia. – Indicando a direção.
O grupo seguiu em direção ao som, subindo o pequeno morro, de cujo topo se podia avistar do outro lado, iluminada pelos lampejos, a densa e monstruosa floresta do suspiro. Eles seguem descendo em direção à floresta. Aproximando-se, Leonel chamou:
– Rei Gob, pedimos permissão para entrar em sua floresta.
 Os raios e lampejos de luz possibilitaram a visão de alguns arbustos da floresta se movendo, em seguida anunciou uma pequena lamparina acesa denunciando a presença de dois homenzinhos saindo dos arbustos, O menor era um gnomo de 30 a 40 cm, levava uma folha de arruda atrás da orelha, alguns pêlos espalhados pelo corpo. Sua roupa era de um verde com várias composições, e carregava o berrante. O outro se parecia com o primeiro, porém, um pouco mais alto, de orelhas pontudas. Sua cabeça e seu dorso eram humanos, com chifres e orelhas de bode. Assim que se aproximaram dos visitantes:
– Mestre Leonel, há quanto tempo. Que prazer vê-los! – Gob recebeu-os com ânimo.
Arquia abaixou-se, cumprimentando-os com um aperto de mão:
– Olá rei Gob, olá Pam.
Vamos! Vamos!Venham! Junto à clareira, lá está quentinho e confortável! E bem iluminado! – Gob apressado e com frio os convidou a entrar, e suspendendo a lamparina tomou a frente dos convidados os conduzindo. Aradia seguia afastada do grupo, cheirando algumas plantas, e aproximando-se de Arquia:
– Mestre, mais tarde encontro vocês.
– Está se sentindo em casa! – Gracejou Arquia.
Aradia apenas deu um sorriso e mudou de direção. O grupo continuou andando cada vez mais floresta adentro. Os raios provocados pelos trovões permitiam ao grupo ver entre um clarão e outro, os olhos curiosos dos moradores da floresta que espiavam através das fendas de suas tocas. Chegando à clareira, encontraram uma grande movimentação de duendes e gnomos transitando na execução de tarefas. Em cada rosto, havia um traço de preocupação. Sentado em frente à fogueira estava o duende gorducho oráculo Holls, o guardião do conhecimento aguardando a chegada dos visitantes, e assim que os viu abriu um sorriso de contentamento e disse:
– Venham! Aproximem-se junto à fogueira. Vamos, sentem-se!
Os visitantes foram se acomodando ao redor da fogueira, enquanto Holls, o anfitrião, falava:
– Já o esperava, Arquia! O tempo corre contra todos nós!
– Turim, sirva nossos amigos! – Exclamou Gob.
Turim, um pequeno gnomo de pernas cambotas, pegou uma madeira lisa que servia como bandeja. Colocou-a sobre um tronco, pegou uma cabaça que usava como concha e encheu as outras cabaças menores. Em seguida, depositou-as sobre a bandeja. Depois, serviu para cada convidado uma cabaça de sopa quentinha, enquanto Arquia narrava os fatos:
– Nazih, Deleon e Faliha foram recuperar o pentagrama. Notus não está bem! Preciso... – Antes que Arquia terminasse a frase, Holls sacudiu a cabeça acompanhada do corpo e suspirou, dizendo:
– Eu sei. Sangue de dragão! Mas tem o tempo certo de plantar e o de colher, não? Não responda! Por isso a linda Taranis está aqui! É você pensou em tudo, mas com essa plantinha retirada de forma especial, seu poder durará apenas algumas horas, e logo perderá as propriedades necessárias para o efeito que deseja. Amanhã faremos a colheita. Depois, terá que consultar o livro dos sábios, o verdadeiro grande oráculo.
Arquia ficou preocupado, questionando o sábio Holls:
– É necessário?
– Sabemos dos perigos! O eixo do mundo é o único lugar que conheço que nos levara ao verdadeiro grande oráculo. – Explicou Holls.
– Minha preocupação principal é com pequenos. – Disse Arquia referindo-se a Elion e Sam, que estavam atentos à conversa.
Leonel, com intuito de desviar a atenção de Elion e Sam da conversa dos Elementais mais velhos, continuou com os ensinamentos, distraindo-os:
– Agora estamos sob a sexta, e sétima lei. Quais são elas, Elion?
Elion respondeu temeroso de errar diante de tantos Elementais importantes:
– Lei do gênero e causa e efeito.
– Isso mesmo! – Disse Leonel satisfeito, continua:     
–Sobre os acontecimentos..., devemos o quê?
– Refletir. Tudo tem o tempo certo, não existe efeito sem causa. – Respondeu Elion.
– É, logo, logo, você será um Elemental do segundo escalão. – Proferiu Leonel orgulhoso.
Sam fitando Elion foi logo questionando:
– O que é segundo escalão?
– É quando um Elemental tem domínio sobre seu dom e recebe permissão para usá-los. – Explicou o paciente professor Leonel.
– Então sem permissão não pode fazer magia? Nem uma bolinha de luz? – Perguntou Sam. – Fitando furtivamente Elion.
Elion, impaciente com as perguntas da menina, suspirou enquanto virou os olhos para cima, e disse:
– Há pelos sóis.
– Podem usar os dons em sala de aula, para aprimorar os dons. – Advertiu Leonel.
–Tem o segundo, e o primeiro? O que significa primeiro... – Sam queria saber mais.
– Um Elemental do primeiro escalão terá domínio sobre os quatro elementos, podendo chegar a mago ou a mestre. – Arquia respondeu eloquente.
Nesse momento, um forte vento levantou as folhas ao redor da clareira. O vento durou alguns instantes e logo se transformou em Eurus um Elemental desnudo. Holls levantou-se, indo em direção ao visitante:
– Meu amigo Eurus! – E estendendo os braços Holls o abraçou transpassando-o. Em seguida, continuou: – Deve vir mais vezes.
– Eu passo sempre por aqui, você que não me nota. – Respondeu Eurus bem humorado.
– Pode nos ajudar? – Arquia questionou esperançoso.
– Posso cuidar da atmosfera, por três luas pequenas. Mais que isso, será impossível! – Explicou Eurus.
– Sabia que podia contar contigo! – Proferiu Holls aliviado.
– Sim! Que seja agora! – Eurus abrindo os braços girou subiu ao céu como furação, enquanto se anunciava em alto tom:
– Fadas das nuvens, lá vou eu! – E dividiu-se em quatro partes , norte, sul, leste, oeste.
– Bem! É melhor descansarmos. Amanhã tem muito a fazer. – Sugeriu Arquia após a partida de Eurus.
Todos se acomodaram junto à fogueira. E deitados, viram Eurus se unindo às fadas das nuvens, dissipando a escuridão e os trovões do céu, dando lugar ao céu limpo e estrelado.
– Que céu esplendoroso! Aquele é o cinturão de Orion. – Exclamou Holls maravilhado:        
– Cinturão? Onde? – Questionou Sam.
Arquia, deitado, levantou a mão, e apontou para o céu:
– Olhem, aquelas estrelas são as Três Marias, Mintaka, Alnilon, Alnitaka. Elas formam o cinturão de Orion.
No céu, pequenos pontos entre uma estrela e outra fizeram o contorno do caçador. Arquia continuou mostrando as estrelas:
– Aquela é Cassiopeia; lá estão Ursa maior e Ursa menor. E os pontos começaram se unir revelando os signos do zodíaco. 
– Eu nunca havia observado dessa forma. Olhando daqui parece mais brilhante, é bonito! – Elion exclamou, fascinado.
– É lindo! As estrelas também têm um guardião? – Indagou Sam.
– Sim, são três irmãos: Selene é a guardiã da lua, Hélios do sol e Eos guarda a alvorada de cada amanhecer. – Explicou Arquia. Por falar em amanhecer, já é hora de dormir...
Alguns admiraram o céu, até adormecerem...
Na manha seguinte, pássaros cantavam por toda parte. O dia estava estupendo e radiante, nem parecia que havia problemas a serem resolvidos. Os duendes e gnomos andavam de um lado a outro, Arquia um dos primeiros a despertar, dialogava com o oráculo Holls e com o rei Gob.
Sam virava-se de um lado ao outro apalpando o que parecia ser um travesseiro bem fofinho e aconchegante, abrindo os olhos, viu que estava deitada sobre um animal que se parecia com um cavalo. Percebendo isso, arregalou os olhos e levantou-se surpresa:
– O que é isso?
           – Você bem que gostou de dormir encostada em mim. Na cidade, sou uma ninfa do ar. Aqui, sou meio... Entende? – Explicou-se Aradia.
– Não! – Sam respondeu sincera.
– Corsa. Aqui ela é uma corsa. – Disse Elion se intrometendo.
– Obrigado, seu Elfozinho metido! – Agradeceu Aradia, sarcástica.
Sam conformou-se, deu um suspiro, pois tudo lá era diferente, e acrescentou divertindo-se:
– Mas você é muito aconchegante... Hehe. E você é um Elfo, Elion? Por que está com as orelhas pontudas?
Elion retrucou:
– Já pensou se você também estivesse com as orelhas pontudas como eu? Ou quem sabe uma cauda, como Aradia?
Sam imediatamente parou de rir, colocando suas mãos sobre suas orelhas, para checar como estavam de tamanho. Depois, olhou para trás, não encontrando nada diferente. Então, sussurrou baixinho:
– Ah, que alivio.
– Vamos, parem de brincar. – Exclamou Aradia. – Sam, quer montar?
Os homenzinhos ouvindo o convite pulavam ao redor da corsa:        
– Aradia, se ela não quiser, eu quero!
– Eu também...
– Não, seus duendes oferecidos. Na próxima eu os levarei. Hoje só vou levar essa garotinha. 
Aradia abaixou as patas dianteiras para que Sam pudesse subir em seu dorso, e fixou os olhos em Elion:
– Você também Elion? Venha!
Sam encarou  Arquia, que dialogava com Holls, mas que prontamente correspondeu ao seu olhar, consentindo. Sam e Elion montaram no dorso de Aradia.
– Puxa, que aventura! – Exclamou Elion, e os três foram floresta adentro até ao lago, de onde saíam bolhas flutuantes.
– Esse é o lago das águas termais. Bom dia! Bornno, Damona. Pedimos permissão para entrar. – Falou Aradia.
As bolhas do lago cresceram e se multiplicaram. Aradia tornou-se novamente uma ninfa do ar (sobre duas pernas):
– Vamos, crianças, não tenham medo! – E Aradia segurou na mão das crianças, e os levou andar sob as águas do lago. As bolhas, então, os envolveram, fazendo-os flutuarem até a gruta acima do lago, no interior havia um lago menor, que se transformou na figura de um Elemental. Era Damona, sua voz ecoava dentro da gruta enquanto cumprimentava:
– São seus amigos, Aradia? Sejam meus convidados.
Neste instante, Damona tornou-se novamente no pequeno lago.
– Vamos crianças, vocês nunca experimentaram tamanha delícia! – Disse Aradia levando-os a entrada da gruta, onde se podia ver  logo abaixo o lago das bolhas flutuantes, e não resistindo: – Pulem! – Gritou Aradia entusiasmada. Os três pularam da entrada da gruta no lago abaixo, mergulharam, mas seus corpos eram levados novamente à superfície, fazendo-os flutuar, até furarem a bolha que os deixavam cair novamente no lago. Após algum tempo de diversão dos pupilos, Arquia, Leonel, Taranis, Gob e Holls se aproximaram do lago:
– Olá crianças, acabou a brincadeira. Seguiremos viagem! – Arquia interrompeu-os.
Sam, Elion e Aradia saíram das águas termais totalmente revigorados para seguirem viagem. Holls e Gob andavam passos à frente do grupo, emitindo ruídos, avisando aos moradores daquela parte da floresta que havia visitantes chegando. Os visitantes logo viram a floresta povoada por seres de corpos sutis, que possuíam uma parcial transparência. Mágicas fadas com coroas de flores enfeitando os cabelos, Elfos, cavalos de longas crinas e com chifres, corsas, servos, coelhos, borboletas, pássaros de diversas espécies. Arquia avistou um pássaro muito incomum, e levantando a mão o pássaro pousou e imediatamente, ele o mostrou a Sam:
– Esta é uma fênix, o pássaro de fogo que sempre ressurgirá das cinzas!
Sam encantada com a exuberância do pequeno pássaro tentou tocá-lo, mas ele voou.
Atravessado a floresta Holls conduziu o grupo a subir  montanha seguindo a trilha lateral de pedras escorregadias paralela a queda d’água que os levou à entrada da gruta camuflada pela cachoeira. Os viajantes atravessaram as água sem se molhar. Assim que entraram na gruta se depararam com três tuneis à sua frente. Antes que continuassem, Holls disse:
– Esperem! – Em seguida, chamou:
– Ghoby! Ghoby!
Em poucos segundos saiu do túnel da esquerda, um gnomo desengonçado dizendo em alto e bom tom:                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                        
– Aqui! –Abanando com uma das pequenas mãos e dizia:         
– Venham! Venham! Não temos tempo a perder.
Todos seguiram o gnomo gruta adentro, até o centro, onde outro pequeno gnomo contava pedras preciosas e com um pequeno graveto fazia anotações no livro mágico, enquanto outro carregava pedras, amontoando-as em um canto. Ghoby observou a menina atentamente. Depois foi junto ao amontoado de pedras, pegou uma delas e disse:      
– Não! – Soltou-a junto ao monte, pegou outra e exclamou:
– Não! Esta não!
Remexeu o amontoado de pedras novamente, espalhando-as até escolher uma. Puxou um cordão de seu pescoço, fazendo uma espécie de colar. Aproximou-se da menina, se esticou ficando na ponta dos pés, e colocou o colar no pescoço de Sam, dizendo:
– Você é especial como uma pedra preciosa. Lembre-se sempre disso! 
Sam, como forma de agradecimento, deu um beijinho de gnomo em Ghoby, deixando-o todo vermelho e sem jeito, chamando a atenção dos demais gnomos. Ghoby, para disfarçar, começou a gritar o nome dos outros gnomos:
– Tiva, Hayootha, Run... Venham aqui!
Ghoby encarou os visitantes:
– O que estão olhando? O sangue de dragão está ali! – Apontando para uma pequena fenda entre as pedras onde a plantinha estava. Leonel, maravilhado pela possibilidade de ter a planta em sua estufa novamente, encarou Taranis, chamando-a para seu lado:

– Vamos, será o tempo certo da poda. – Indagou Taranis:
Arquia, preocupado com a poção para o amigo Notus, disse:
– Taranis, colha!
Leonel afastou-se para que Taranis pudesse usar seus poderes mágicos.
 CRESCERE – Pronunciou Taranis. – O mantra fez a plantinha crescer. Taranis a colheu condicionando-a em seus frascos.
Antes de sair da gruta, Arquia retirou do cinturão preso em sua túnica uma pequena bolsa de couro, oferecendo-o a Ghoby, que estendeu suas pequenas mãos pegando-a. Ao abri-la, viu o esplendor de delicadas pérolas. Seus olhos brilharam, chamando a atenção dos outros gnomos, que se amontoou ao redor de Ghoby, que as exibia:
– Estas jamais serão encontradas nas cavernas! São tão lindas!
O pequeno duende agradeceu com um largo sorriso estampando em sua pequena face.




                                         XVI – O vale das lágrimas


Aradia foi a primeira a sair da gruta, e já ia descendo rumo à floresta quando Holls sinalizou advertindo-a:
– Não esqueceu o livro dos sábios? É por aqui! – Disse Holls apontando para o cume da montanha.              
– Devo descer à floresta! – Explicou Aradia seguindo adiante.
Holls ansioso aguardou os demais frente à gruta, com o grupo já reunido Arquia os instruiu:
– Respirem profundamente, porque a subida é exaustiva e ficará mais difícil respirar.
– Onde está Aradia? – Questionou Sam.
– Ela está em uma missão! – Explicou Arquia.
O grupo seguiu novamente a trilha escorregadia, rumo ao topo da montanha, e a cada passo ficavam mais admirados da exuberância do lugar. Era como se pudessem tocar o céu. O som das águas se parecia a uma orquestra da natureza, fazendo-os relaxar. Chegando ao topo da montanha, o grupo acreditou ter encontrado a nascente, que se dividia em  quatro rios.  Após alguns minutos de contemplação do lugar.
– Bem, aquele é o vale das lágrimas. Uma pequena parte da casa das Névoas. Teremos que atravessá-lo! –Disse Arquia , na tentativa inútil de chamar a atenção de Sam
           .O ancião Arquia, passou a mão por sobre os olhos da menina, fazendo-a retornar de seus pensamentos. As primeiras imagens a se refletirem nos olhos de Sam foram devastadoras. Do outro lado, na encosta da montanha, havia um gigantesco vale obscuro tomado por denso nevoeiro. Três homens saídos do vale, vestidos de túnica branca com capuzes cobrindo-lhes o rosto, subiam a montanha em direção ao grupo viajante. O primeiro sacudia um incensário em uma das mãos, cujo aroma era dos deuses, cheiros jamais sentidos pelos que estavam ali; o segundo segurava em suas mãos uma espada cravejada de pedras preciosas reluzentes; o terceiro trazia consigo um símbolo desconhecido entre os Elementais. Os três homens encapuzados se aproximaram do grupo de Arquia que os aguardava:
– Eles serão nossos guardiões na travessia do Vale, não toquem em nada, nem dêem ouvidos aos apelos que ouvirão! – Advertiu Arquia.
O guardião do incensário o levantou de frente para o grupo, produzindo uma fumaça que formou um invólucro ao redor. À medida que desciam a montanha, aproximavam-se do solo sagrado, conhecido como vale das lamentações ou das lágrimas. O clima tornava-se frio e, aos poucos, a visibilidade se perdia em alguns trechos do caminho. Alguns dos viajantes sentiam arrepios, mas a preocupação dos anciões era com a pequena Sam e com o jovem Elemental Elion, que não faziam à menor idéia do lugar em que estavam e dos acontecimentos que poderiam deixá-los apavorados. Não eram visíveis as coisas que passavam entre seus pés devido à névoa mais densa junto ao chão. Quando o mentor erguia o incensário, as coisas eram afugentadas. Nas partes em que a névoa era menos densa, o grupo podia contemplar alguns seres de roupas esfarrapadas e aparência anoréxica. Outros se rastejavam no chão, com rostos disformes parecendo-se com répteis; alguns infelizes estavam de frente para um chafariz bebendo água barrenta; enquanto outros comiam folhas secas... Essas visões deixaram Sam completamente estarrecida, e intrigada:
– Por que eles estão em um lugar tão ruim?
– Minha querida criança. Não existe efeito sem causa! – Explicou Arquia.
Sam agarrada ao manto de Arquia, e atenta aos acontecimentos do lugar: à súplica da mulher tomada pelo cansaço que chorava solicitando auxilio; outro ser suplicava socorro, enquanto era subjugado por seres de natureza maléfica, denunciados por sua aparência desfigurada e animalesca; outros sussurravam palavras lascivas; ouviu-se o barulho de uma manada, aproximando-se na direção do grupo, com a proximidade o barulho se intensificou. Fazendo crescer o medo de Sam, e segurar o manto do ancião, agora, com as duas mãos. Elion atento aos fatos cutucou a menina:
– Sam, preste atenção no cheiro do incensário. Feche os olhos!
Nesse instante, a manada dos deformados seres animalescos veio de encontro ao grupo. O mentor que carregava a espada a levantou, fazendo-a resplandecer como o sol. Fazendo a manada se dividir, passando por eles, deixando apenas um cheiro horrível de putrefação.
Sam, agarrada ao manto de Arquia, reclamou:
– Ah, que cheiro horrível!
– Pense em flores! – Arquia orientou a menina.
Sam, então, usou a imaginação, lembrando-se das lindas e formosas flores dos jardins de sua avó, sentindo o inigualável e maravilhoso perfume dos jardins.
 Logo à frente, misturado à densa nevoa um imenso portão que se abriu, de cujo interior saíram dois monges galopando em direção ao vale. Carregavam espadas em suas costas. Era difícil olhá-los devido à luz que suas almas irradiavam, enquanto gritavam:
– Somos o socorro do arrependido! – Desaparecendo perante o nevoeiro.
O pequeno grupo atravessou os portões guiados pelos mentores. Dois monges saídos do mosteiro foram em direção aos visitantes, e um deles disse:
– A paz esteja com vocês! Sejam bem-vindos no mosteiro do recolhimento dos peregrinos!      
– A paz! – Arquia prontamente respondeu. Nesse instante os três mentores que os ajudaram na travessia do vale se despediram apenas com um aceno. E atravessaram os portões, até sumirem pelo nevoeiro do obscuro vale. Os portões fecharam-se.
Um dos monges conduziu o grupo de visitantes aos jardins do mosteiro. Às vezes, Gob, Sam e Elion ficavam para trás, maravilhados com a claridade e tranqüilidade que lhes permitiam flutuar. Arquia, com um simples olhar, chamava a atenção dos retardatários do grupo. Enquanto o monge apresentava o lugar:
– O prédio grande à direita é uma casa de repouso que acolhe os recém-chegados que apresentam cansaço, ou sintomas de enfermidades e moléstias na alma. São, então, diagnosticados e tratados. Essas pessoas sentadas nos jardins aguardam seus amigos queridos se restabelecerem.
O grupo continuou a caminhada pelos jardins de impecável grama verde-alface, e flores. Não havia como descrever a exuberância da paisagem, tamanha a perfeição dos formatos e harmonia de cores que deixavam Gob e Holls apaixonados, querendo cheirar cada flor. O monge conduziu os visitantes frente ao prédio de dimensões bem maiores que o anterior, apresentando-o:
– Este é nosso tesouro! O maior oráculo, o conhecimento. Aqui encontrarão todos os livros originais que procuram, incluindo os livros dos grandes sábios, de que tão poucos puderam contemplar a cópia, como Enoch e outros.
– Cópia? – Surpreendeu-se Arquia.
– Estes são os originais! Qualquer outro é cópia. – Explicou o monge.
Arquia, Leonel e Taranis estavam fascinados, e imediatamente começaram a procurar o livro sagrado das chaves. Andavam por entre os corredores repletos de estantes com prateleiras que se estendiam até o céu. Arquia parou de frente para uma estante, ergueu o braço e pronunciou:
– Sanationem.
Os livros começaram a flutuar, mas um deles foi direto para a mão estendida de Arquia:
– Encontrei!
Então, caminhou até uma das mesas, a fim de acomodar o livro para então abri-lo. O grupo se reuniu em torno da mesa. Antes de abri-lo, Arquia explicou aos pupilos:
– Este livro possui sons identificados pelos anjos, capazes de curar doenças. Quem o escreveu era conhecido pelos egípcios como Thoth, o senhor da magia; pelos gregos, era Hermes, o mensageiro dos deuses.
Abrindo o livro, verificou que estava escrito em aramaico antigo. Arquia começou a ler, auxiliado por Leonel:
– “Águas purificam, tranqüilizam a alma do aflito e necessitado; submergir nas águas purificadoras é renovar-se, tornar-se consciência cósmica, emergindo uma nova criatura sem medos, exageros, antigos erros; é acertar o caminho, voltar ao princípio; é estar pronto para compreender que tudo e todos estão caminhando movidos pela lei do desenvolvimento do universo; o amor, a doação, abnegar-se em auxílio... Esses são os sacrifícios em favor da verdadeira vida, que nos fazem confirmar que somos apenas uma partícula da manifestação da criação”.
– Não estou encontrando o que procuramos. – Arquia fechou o livro.
– Espere! – Interrompeu Leonel. Sem sair do lugar, levantou uma das mãos e disse:
– E quando a vida toca a morte, o que faço?
Imediatamente, três livros começaram a flutuar simultaneamente sobre Leonel, que pegou um de cada vez, colocando-os sobre a mesa completa:
– Conseguiremos desvendar a maneira de ajudar Notus? – O ancião o abriu:
– “Os portões das terras sagradas... Há muito tempo, uma civilização vivia em harmonia com a natureza. Possuíam todo o conhecimento, a vontade era seu poder. A mente dominava o corpo e a matéria. E um dia os valores espirituais se contaminaram e, como consequência, perderam os dons, perderam a fé. Isso os levou a destruição”.
Após a pequena leitura, Arquia ensinou aos pupilos a mensagem:
– Crianças, “o pensamento é o tecelão do destino!”.
– “A fé”, crianças, “é o direcionador de almas!” – Leonel complementou.
– Devemos acreditar que podemos e iremos ajudar Notus. – Sussurrou Arquia.
O grupo saiu da biblioteca, encontrando o monge, que os aguardava frente ao prédio. E ao vê-los ele disse:                                                                                                                                                                                        
– Espero que tenham encontrado o que procuram! Sigam-me! – Em seguida, guiou os viajantes ao longo de uma espécie de ladeira. O clima era ameno, uma névoa tranquila, oferecia sensação de conforto e segurança. Atingindo o topo da ladeira: – Chegamos! – Disse o monge. – Parando exatamente debaixo de uma árvore frondosa com inúmeros frutos. E com um gesto, o monge indicou aos viajantes o local para o qual deveriam olhar. O grupo imediatamente olhou na direção indicada. Vendo um aglomerado de nuvens se dissipando lentamente, e aos poucos revelando suspenso no firmamento uma montanha com inúmeras raízes que se expandiam até as entranhas da terra. O monge explicou:
            – No cume é a nascente das águas cristalinas que desce harmoniosa através do córrego, circulando e nutrindo os três anéis da montanha. A zona umbralina da casa da névoa, se divide em sete vales, sendo que o vale das lágrimas é apenas uma parte da casa das névoas. Alguns dos vales são suspensos sobre Malkuth, e se estendem ao redor da encosta da montanha, .e outros, são  abaixo dele, que se enraízam nas entranhas da terra.
– Onde estamos, faz parte da montanha suspensa? – Questionou Gob.
– Não! O mosteiro dos peregrinos esta na mesma região do vale das névoas; porém, o vale não possui nenhuma influência sobre o mosteiro. – Afirmou o monge.
Soou o toque de um clarim sobre a montanha. E o exercito de cavaleiros apareceu sobre o primeiro anel, posicionando-se em fileiras.
– Aqueles são os guerreiros de Asgard. Eles protegem a justiça e os fundamentos das cidades suspensas. Mas na iminência do bloqueio total da luz na proximidade do terceiro anel, aumenta a possibilidade de uma  invasão.
Soou o toque de um clarim novamente, desta vez, seguido de uma ordem dada pelo comandante dos guerreiros da montanha:
– Atenção! Executar!
. Os cavaleiros que estavam sobre o primeiro anel, posicionavam-se novamente, agora, para o terceiro anel da montanha. A magnitude dos guerreiros, com corpos musculosos, ataviados para guerra e adornados com capas sobre os ombros, cabelos longos com tiara, braceletes cravejados de pedras coloridas. A exuberância dos guerreiros sobre animais magníficos fascinava aos viajantes.
O monge continuou as explicações:
– Notus é responsável pela barreira de proteção que separa a montanha e o reino de Malkuth do vale das nevoas. Quando a proteção de Euros se desfez, ficamos vulneráveis a ataques.
Leonel, intrigado, questionou o mentor:
– O que exatamente a barreira de Notus faz para que os perversos não a ultrapassem?
A resposta do mentor foi ouvida com extrema atenção:
– Notus possui virtude vinda da coroa, e uma delas é filtrar toda a densidade fluídica maléfica da atmosfera ao redor do planeta transformando-a em luz purificada que serve como barreira de proteção a Malkulth e a montanha suspensa.
Estão vendo aquela nuvem negra, ela é a personificação do mal. O mal não consegue ultrapassar as zonas iluminadas, eles abominam a luz, devido a sua condição de inferioridade moral!
Finalmente a nuvem negra se expandiu cobrindo  o céu de Malkuth, trazendo a completa escuridão.   Gritos vinham das entranhas da terra, causando o espanto de Sam e Elion, que curiosos, olharam surpresos em direção aos lampejos de luzes vermelhas, fazendo-os arregalar os olhos:              
– Nossa! – Suspirou Sam.
Aproveitando a escuridão, saía das entranhas da terra um exército de soldados sobre serpentes que se arrastavam  através das raízes, rumo a encosta da montanha, enquanto outros   rasgavam os céus de  Malkulth sobre dragões alados que cuspiam  chamas vermelhas.
O comandante dos guerreiros de Asgard, mediante a situação   de imediato  reagiu:
– Avançar!
Os guerreiros desceram para a encosta da montanha, formando uma fileira perfeita, chamada: de unidade, que quando formada, expandiu um feixe de luz, fazendo os facínoras habitantes da zona umbralina aos arredores da encosta da montanha recuarem.
– Meus amigos, vocês devem voltar agora! Não há muito tempo!   Devem ir antes que haja um confronto, pois há possibilidade de todo o reino do planeta Gaia ser  invadido por seres abomináveis. Devemos ir! – Advertiu o monge preocupado.
O grupo atento a iminente batalha entre os cavaleiros e monstros umbralinos ignoravam o monge.
– Vamos! – Insistiu o monge, austero. Ganhando a atenção de Arquia.
– Devemos ir, agora! Vocês já viram o bastante. Sugiro que não façam o mesmo caminho pelo qual vieram, por se tratar de uma zona de confronto. Além do que, é mais longo. Venham lhes mostrarei um novo caminho!.
Com passos apressados o monge conduziu os visitantes à beira de um pequeno lago, e disse:
– Devem ir agora! – Estendendo a mão em movimentos circulares verticais. Abriu-se um portal. E com o olhar, autorizou a passagem.
– O tempo não é nosso aliado, vamos! Atravessem! – Ordenou Arquia. O primeiro a atravessar foi Gob, depois Taranis, Sam, Elion, Leonel e Holls, restando apenas Arquia, que, antes de atravessar, emitiu mentalmente seu agradecimento ao monge.
– Obrigado por tudo!
Enfim, atravessou o portal.






XVI I– Segredo


Na floresta das ilusões Ixia conduzia Faliha:
– É difícil passar com uma vegetação tão intensa, são muitos galhos – Reclamou Faliha.
Impossibilitado de ver o chão, ele caiu em um pântano. Com o susto, levantou os braços na tentativa de segurar em um galho de árvore. Esse ato o fez sem querer, bater em Ixia, que rolou no ar gritando “Ai! Ai! Ai!”. Faliha se debatia na tentativa de sair do pântano, mas quanto mais se mexia, mais afundava.        
– Socorro, Ixia, ajude-me, estou afundado! – Suplicava Faliha.     
A fadinha zangada, parada no ar, com os braços cruzados e sacudindo um dos pés, retrucou:
– Eu não! Você me empurrou!
– Ixia, me ajude! Eu não a empurrei..., agora, por favor  !
Ixia vendo aquela situação começou a rir.
– Não acho graça... Ajude-me, por favor! – Faliha continuou clamando pela ajuda de Ixia, que vendo Faliha submerso no lodo e quase sufocado, resolveu ajudar:      
– Está bem! – Ixia voou próximo de Faliha:      
– Lembra-se do que Himalia falou? Não acredite no que você vê, mas no que quer ver...
– Você não está me ajudando! – Faliha respondeu, sufocado.
– Claro que estou! Pense em algo seco! Como o chão firme! – Ixia retrucou.
  Faliha, com a cabeça submersa, concentrou-se:
– É isso! – Imaginou-se fora do pântano, em lugar firme e seco, e roupas limpas. O pensamento foi o suficiente para tirá-lo do pântano, assim decidiu fazer o mesmo com a vegetação fechada, fechou os olhos, e imaginou um lugar fácil de transitar. Abriu os olhos: – Assim é bem melhor! – E tudo estava como havia imaginado.
Faliha continuou o caminho guiado pela fadinha. Mais à frente, avistou uma gárgula. Encarou Ixia, e disse:
– Estou vendo coisas?
– Não, ele realmente é uma gárgula. Bem-vindo a nossa floresta das ilusões. – Exclamou Ixia orgulhosa.
– Eu sei, que é uma gárgula! Só não sabia que era aqui que eles ficavam. – Se explicou Faliha.
Faliha, exausto pelo esforço que fizera na tentativa de sair do pântano, sentou-se sobre um velho tronco de árvore deitado ao chão. Enquanto recarregava suas forças, sentiu algo baforar em seu pescoço. Faliha virou-se e viu, três cabeças que o cheiravam, uma de leão, uma de cabra e outra de dragão, todas num mesmo dorso de leão. Um som distante emitido por um Elemental de  dois metros e meio de altura, orelhas até os ombros, e dois olhos laterais como de águia, atraiu a atenção do animal que saiu correndo em sua direção       
– Que animal é aquele? – Perguntou Faliha estarrecido.
            – O bichano é uma quimera, Sariel. E aquele é Armaron um guerreiro lemuriano. – Disse Ixia, abanando para o Elemental.
             –Já descansou? Vamos! – Insistiu Ixia.
Neste instante aterrissaram mais quimeras, próximas a Armaron uma com cabeça de cabra, cauda de serpente e corpo de leão alado; a outra tinha uma cabeça de dragão, outra de leão, e dorso alado de cabra com rabo de dragão. Deixando Faliha ainda mais impressionado e atento.
– Ainda falta um pequeno trecho, já ouviu falar no reino de Falowey? – Disse Ixia, na tentativa de retirar a atenção de Faliha das quimeras.
– Não! – Respondeu Faliha, interessado.
– Eu sou uma fadinha descendente de Falowey. Sou bisneta da rainha  Jasmim. Ela era muito poderosa, aliás, ainda é. Um dia um duende ordenou ao clã das fadas que fizessem uma rede, ele praticamente as obrigou, mas...
– E aí, o que aconteceu? – Faliha questionou curioso.
– Aconteceu que chegamos! À entrada da colina dos ventos. É hora de você ir! – Disse Ixia.
Faliha saiu da mata despedindo-se da fadinha:
– Ixia, obrigado por sua ajuda! Mas quero saber da estória. 
– Na próxima vez eu conto tudinho!Adeus! – Acenou a fadinha entristecida.
Faliha se posicionou na entrada da colina à espera de Sifer, Miso e seus discípulos.
 Enquanto isso.
 Nazih e os minotauros chegaram ao leito do rio encontrando uma visão desoladora. A crueldade  praticada contra  Migdy, Nifeia e as outras sereiazinhas transformadas em estátuas de gelo. Tomado pela raiva e compaixão pelas Elementais,  Nazih tornou-se uma tocha, mas sua fúria não o deixou perpetuar as chamas, concentrando-se no que era realmente importante. Ele controlou sua fúria e acendeu-se, perpetuando as chamas de suas mãos, as mergulhou no gelo ate  reverter o feitiço, proferindo um mantra:
– Echiye metim atah! Echiye metim atah! 
O gelo do rio derreteu gradativamente, até alcançar Migdy, Nifeia e as outras sereiazinhas que retornaram ao seu estado natural.
– Obrigada Nazih. – Agradeceu Nifeia, sacudindo a cauda parcialmente congelada: – Faz pouco tempo que aquele... , passou por aqui. Foram por ali! –Apontou com a calda.
– Devemos ir, agora! – Recomendou Nazih.







XVIII – A poção

        
O grupo de Arquia retornou do Mosteiro dos peregrinos através de um portal, que os deixou próximos à floresta do suspiro do rei Gob. Debaixo da escuridão e do mau tempo, seguiram em direção à clareira da floresta, reencontrando Aradia junto à fogueira.
– Temos que ir! Obrigado pela ajuda. – Disse Arquia, despedindo-se dos anfitriões.   
– Quando tudo terminar farei uma grande festa! Mas exijo a presença de todos. – Propôs o rei Gob, entusiasmado.
– Vou dar uma ajudinha! – Exclamou Holls, e todo empolgado, deu um tremendo assobio, que fez com que uma ave fênix viesse pousar em seu braço:
– Que tal , hein?
– Ah, vai fazer o pássaro ficar maior? – Arquia parecia surpreso.
– Não! Não é bem essa idéia! – Holls corrigiu. Lançando um pó sobre Arquia, Taranis, Leonel, Sam e Elion, tornando-os pequeninos.               
– Por essa eu não esperava! Hehe. – Gracejou Arquia.       
Holls se abaixou, colocando a pequena mão no chão:
– Venham, subam! Foi muito bom recebê-los!–  Disse Holls enquanto ajudava os seus amigos a subirem na fênix.
– Aradia, você não vem? – Perguntou Sam preocupada.
– Vou ficar mais um pouco, logo nos veremos. – argumentou à corsa. E continuou: – Mestre Arquia quando estiver pronto, eu o levarei a Cracia!
Holls descontraído, com o passaro pousado sobre seu braço, disse mais uma palavrinha a Arquia:
– Por amor fazemos grandes sacrifícios! Somos apenas criaturas do criador! Quanto a você, seu pássaro de fogo, leve-os a Cracia, não os coma! Hehe, brincadeirinha. Agora vá! – E soltou o pássaro rumo à cidade.
Chegando a Cracia, a fênix aterrissou bem no meio da cidade em polvorosa, mediante a repentina escuridão, os tripulantes desceram do pássaro e quase foram pisoteados por Elementais que apressados corriam fugindo do mau tempo. Arquia mediante as circunstancias apressou-se em fazer um encantamento, fazendo-os voltarem ao tamanho normal. Sinalizou ao pássaro, que pousou em seu braço, e agradeceu:
– Obrigada pela viagem! – Colocando-o sobre seu ombro, recomendou: – Agora descanse.
Arquia, meio ao alvoroço da cidade, anunciou:
– Vou à sala de poções, você vem, Leonel?
Taranis, no mesmo instante, retirou de sua bolsinha a planta colhida na gruta, entregando-a ao mestre Arquia e Leonel:
– Peguem o sangue de dragão! Não se preocupem, vão bastar para as duas coisas. Eu fico com as crianças.
O jovem Elion encarou Taranis com sinal de reprovação. Ela o ignorou, fazendo um cafuné em sua cabeça, e continuou a falar com Arquia:
– Iremos a Silbury. –Segurando Sam e Elion pelas mãos, partiu em direção a Silbury.
Elion chateado soltou da mão de Taranis, empacando meio ao alvoroço da cidade: – Criança? –Resmungou o jovem.
Taranis insistiu, puxando o jovem e, com um abraço fraterno, explicou:
– Para mim, você sempre será uma criança. Lembra-se de quando você veio para sua primeira aula? O pequenino Elfo do ar veio estudar logo em Silbury. Você é o único sabe disso.
Uma sucessão de lampejos seguidos de raios caia sobre Cracia, um deles próximo a Sam, que deu um tremendo grito, interrompendo a crise existencial de Elion, que temeroso disse:        
– Então, professora, a senhora deve levar as crianças:                  –Vamos! Venha Sam! – Segurando nas mãos de Sam e Taranis.
Leonel e Arquia partiram para o templo de Maltwood, dirigindo-se direto à sala de poções. Ambos se dedicaram em preparar a poção reversa. Arquia amassava algumas ervas com soquete de madeira, enquanto Leonel picava a papoula junto à mandrágora. Depois, Arquia esfregou entre as mãos o alecrim, misturando tudo no caldeirão:    
– Este é o ingrediente principal para a poção reversa. – Disse Arquia jogando um pedacinho de sangue de dragão no caldeirão, fazendo-o borbulhar. Enquanto Leonel mexia os ingredientes com um galho de um velho salgueiro.
– Acredito nesta poção de cura. A poção está pronta! Sinta o cheiro. –Disse Arquia pegando um pequeno frasco e condicionando-a : – Ela tem que funcionar! Vamos!
 Leonel despediu-se do amigo e regressou a Silbury com a finalidade de plantar a belezinha do sangue de dragão, e Arquia foi a Anasazzi, indo direto aos aposentos do enfermo Notus, que estava aos cuidados de Ignis. Ela, ao vê-lo, levantou-se e foi em sua direção:     
– Mestre, que bom! O senhor trouxe a poção!
Ambos levantaram cuidadosamente a cabeça de Notus, fazendo-o beber a poção reversa. Arquia exausto, sentou-se , na expectativa de o remédio fazer efeito.






XIX – Recuperação


O pequeno grupo de Sifer chegou à entrada do monte, sendo surpreendidos por Faliha que bloqueou o caminho, e disse:
– Aonde vocês vão?
– Como chegou aqui? – Miso parecia surpreso.
– Ele deve ter vindo pela mata, mas isso não é um problema. – Sifer retrucou, e levantando a mão, lançou um encantamento sobre Faliha, que para se proteger criou um escudo transparente a sua frente.
– Joguem o encantamento ao mesmo tempo. – Miso ordenou aos discípulos.
Sifer aproveitou o ataque simultâneo dos discípulos a Faliha e fugiu, subindo a estreita e escorregadia encosta do monte. Miso o seguiu, deixando os discípulos para trás, com a missão de neutralizar Faliha.
Deleon em forma de vento chegou à entrada do monte, e de imediato partiu em direção a Faliha, para libertá-lo do ataque dos discípulos de Miso.
– Vá atrás do pentagrama! – Solicitou Faliha ao amigo.      
Deleon no mesmo instante mudou de direção, e foi rumo ao monte. Em instantes Nazih chegou  à entrada do monte acompanhado pelos minotauros, deparando-se com Faliha em desvantagem, Nazih indignado se apressou em ajudar, lançando uma chama de fogo que chamuscou os discípulos que, amedrontados, fugiram em direção a íngreme desfiladeiro do monte. Faliha desativou o escudo de proteção e caiu ao chão, exausto com seus poderes esgotados.
– Você ficara bem! Venha! – Disse Nazih, ajudando o amigo a se levantar.
– Só preciso respirar um pouco! – Respondeu Faliha. Enquanto Nazih ordenava aos minotauros:
– Subam a colina, e refaçam o caminho destruído!
           Miso continuava a subir o desfiladeiro do monte, na tentativa de alcançar Sifer, que já se encontrava misturando-se às nuvens que cobriam o topo. Algumas vezes, Miso parava de subir o desfiladeiro, e empurrava pedras gigantescas desfiladeiro abaixo atingindo os minotauros que escalavam e refaziam o caminho. Os minotauros atingidos, na queda se estilhaçavam em pedaços, dando origem a outros minotauros que subiam reconstruindo o caminho que havia sido destruído. Miso percebeu ser inútil destruí-los, e se apressou em alcançar Sifer.
 Deleon pairava entre as nuvens do topo, até que seus poderes não funcionaram mais, tendo que se transfigurar em Elemental sobre duas pernas e subir o restante do desfiladeiro    a pé .
Sifer atingiu o topo, e apressado buscou dentre as várias rochas a que possuía o encaixe do pentagrama, sendo que foi surpreendido por Deleon, que tentava agarrá-lo entre as rochas., Sem êxito, Deleon tentou transformar-se em vendaval.
– Seu idiota, aqui não há como usar poderes! Mas eu posso! – Gracejou Sifer, desferindo um poderoso golpe fluídico sobre Deleon, que conseguiu se desviar.
Miso atingiu o topo, deparando-se com Deleon esquivando-se dos ataques fluídicos de Sifer, que ao vê-lo gritou:
– Miso, pegue-a! Você sabe como fazer! – E Sifer jogou uma pequena bolsa preta.
Deleon sentindo-se vulnerável escondeu-se entre as pedras, e imediatamente lembrou-se do pergaminho que Arquia lhe dera, retirando-o  da manga , o leu:
– Nunc, Nunc Viribus. – Dito isto, retomou seus poderes, e de imediato provocou um vendaval.
 Sifer surpreso e na iminência de ser levado pelo vento foi obrigando a segurar-se entre as pedras, e indignado em meio à turbulência do vento gritava:
– Esqueceu, agora é inútil? Eu não voltarei! –E pronunciou um mantra de transformação que fizeram seus pés se transformassem em garras de águia, fincando-as ao chão. E continuou a lançar sobre Deleon fluidos maléficos que como pequenos raios  eram dispersos no vendaval.
Miso impossibilitado de se locomover, utilizou-se do dom da terra. Logo, fez crescer a vegetação que se entrelaçaram a ele, permitindo que se locomovesse por entre as pedras em busca do encaixe do pentagrama. Os discípulos, assim que atingiram o topo do monte, eram sugados pelo vendaval. Miso, na tentativa de salvá-los, entrelaçou-os às folhagens da planta que também o segurava. As folhagens balançavam ao movimento do vento até se romperem, lançando os discípulos ao vento. Miso, furioso pela perda dos discípulos, obstinou-se na abertura  do portal, e com o pentagrama em mãos recitou repetidas vezes : aperire hoc tempore.
Uma das pedras parcialmente enterrada começou a se mover para fora , revelando o local do encaixe do pentagrama. O vendaval dificultava Miso de locomover as folhagens até a pedra, mas, após  diversas tentativas, Miso agarrou-se a pedra e esticando-se conseguiu encaixar o pentagrama. O portal do mundo do sonho finalmente começou a se abrir.
– Mestre. Consegui! O portal está abrindo! Vamos! – Miso entusiasmado fez as folhagens da planta  se movimentarem rapidamente utilizando o vendaval a seu favor, levando-o próximo ao portal.
 Sifer eufórico olhou a abertura do portal, e se apressou em jogar um pó negro dentro do vendaval, fazendo tudo escurecer. E aproveitou a escuridão para ir  de encontro ao portal e, irônico, gritou:
– Já vou!
 Deleon na tentativa de reverter à escuridão em claridade, pronunciando um mantra: Domino tempus transformare tenebris in lucem.
Nazih chegou ao topo do monte e foi arrastado por um negro vendaval, que o cegava,  mas ouvia claramente Deleon entoar o mantra. Nazih, então, segurou-se e  ajudou o amigo a entoar o mesmo mantra: Domino tempus transformare tenebris in lucem.
. Enquanto o mantra não tinha o efeito desejado, o sábio Nazih lançou um chicote de fogo sobre o vendaval causando uma rápida claridade sobre o topo do monte, que revelou Sifer junto ao portal. Nazih na incumbência de impedir a iminente  fuga do maléfico, lançou novamente o chicote de fogo, mas, desta vez, direcionado a Sifer, o atingindo, fazendo-o cair no chão momento antes de atravessar o portal.
Miso que já havia atravessado, gritou eufórico:
– Mestre, o segundo portal está se fechando, venha logo!  
Sifer caído no chão, encarou o brilho do pentagrama ainda na pedra, estendeu a mão na tentativa de pegá-lo, mas teve de deixá-lo. Mesmo ferido, levantou-se e partiu em direção à pequena fenda ainda aberta, e jogou-se, sendo atingido novamente por um novo chicote de fogo enviado por  Nazih, agora lhe queimando gravemente os pés. O portal, enfim, se fechou.
Faliha mesmo fatigado atingiu o topo do monte, se deparando com o vendaval ainda escuro, e como Elemental mago, respirou profundamente utilizando-se de toda força que lhe restara e proferiu: cessari. – e fez cessar a escuridão e o vendaval de imediato, enfraquecido suas pernas perderam a força, na iminência de desfalecer Nazih o amparou. Enquanto isso Deleon retirava o pentagrama da pedra, e disse:
– Devemos voltar rapidamente. Eu os levarei !
Do cume do monte Deleon olhou para os minotauros e jogou-se, tornando-se vento, pronunciou:
–Vocês já cumpriram sua missão.  – Os minotauros de imediato se desmancharam, tornando-se pequenos pontos de luz que retornaram a Cracia. Deleon retornou ao topo do monte, e ainda transfigurado em vento envolveu seus amigos em um redemoinho locomovendo-os  em direção à cidadezinha.






XX - Sacrifício


Um som estranho se intensificava rapidamente se aproximando de Cracia. Então, Arquia Apoiando-se no cajado levantou-se da cadeira., caminhou em direção à janela.             Confirmando a aproximação de um furacão que já se anunciava através de um vendaval arrastando cestos, folhas e mercadorias que ainda estavam frente às lojas. Elementais fugiam do vendaval e do vento norte, que enfim, trouxe a chuva como sinal de má sorte. Arquia preocupado disse:
– Devo voltar ao templo central, agora!
O ancião apressado saiu de Silbury em direção ao templo de Maltwood, acompanhado de intensa chuva e relâmpagos que atingiam árvores e parte de prédios de Cracia, apoiando-se no cajado fitou o furacão ,iminente em assolar a cidade.  Arquia, que levantando o cajado o impôs frente ao furacão, e pronunciou: donube discuss. Fazendo-o mudar a direção e subir ao céu, intensificando ainda mais o mau tempo. Agora, o furação espalhou a grotesca nuvem revelando sobre o negro céu de Malkulth, as chamas saídas das narinas e bocas de dragões e serpentes aladas conduzidos por entidades disformes e monstruosas do reino das nevoas que subiam através das raízes ate a encosta da montanha, investindo sobre os guerreiros de Asgard , com golpes de machados e espadas . O ancião diante de tal visão  se apressou ainda mais em chegar a Maltwood, enquanto meditava: “O tempo se esgotou! Eurus fez o que pode. Se precisar... Eu..”.
Arquia encharcado pela chuva atravessou as portas do templo central de Maltwood. Dando seus primeiros passos no corredor, fez um encantamento com as mãos, secando-se inteiramente, restando somente o rastro de pingos no chão. Entrou no salão do oráculo, sentou-se na poltrona, e  fixou os olhos no Circulum que tudo vê, em instantes, se refletiu em seus olhos catástrofes que estariam por vir sobre Gaia, inúmeras aberrações chegando de outros planetas contribuindo para a o desequilíbrio da natureza, maremotos provocados por abalos sísmicos causando a  erupção de vulcões ocultos em  águas negras, terremotos de grande escala ativando o circulo de fogo, imensos furacões, e, por fim, a destruição da humanidade. Arquia, vendo tanta destruição, levou as mãos ao rosto, murmurou:
– Isso não pode acontecer...
Levantou intempestivamente com fisionomia de quem estava prestes a entrar em uma guerra. Começou a suplicar:
– Rogo a ti que criaste as leis do universo, tudo tem dois lados, e tudo faz parte da criação! Eu como criatura suplico ao criador por uma intervenção.
Batendo o cajado três vezes no chão, provocou um forte nevoeiro no salão, uma suave brisa esvoaçou suas vestes. Abriu os braços, e seu peito se irradiou, iluminando o ambiente, seu corpo vagarosamente levitou, e sua essência transportou-se a um local desconhecido, onde um nevoa cegava-lhe até mesmo sua terceira visão. Sentindo-se observado, então, começou a falar:
– Preciso falar com o conselho da criação! É de vital importância! O planeta não resistirá! Se houver o alinhamento no momento errado... – Nem terminou de falar. E vozes misturadas o questionaram:
– Você quer ajuda?
– Sim! Preciso de ajuda!                          
– Está tudo sob controle. – Insistiam as vozes.
Arquia insistiu em seu apelo:
– Eu temo que não! Notus ainda não se recuperou, há  possibilidade de cargas negativas invadirem Gaia... Uma luz prateada se iluminou, emitindo a segura voz de um ser masculino, disse:
– O conselho o aguarda.
Arquia misteriosamente foi transportado, viu-se sentado a uma cadeira junto a mesa do Conselho da Criação composta de  oito anciões. O dirigente iniciou:    
– Afinal, o caro irmão é representante do reino de Malkuth.
O silencio imperava no ambiente, até que:
– Eu posso... – Disse Arquia, sendo interrompido pelo gentil dirigente:
– Pode me chamar de Genesius. O irmão é um Elemental de grande valor moral, e a vinda até aqui requer abnegação e desprendimento, mas, sobretudo, basta um pensamento e pronto! Seus pensamentos já denunciam a gravidade do problema.
O dirigente Genesius continuou, agora se dirigindo ao Conselho:
– Caros irmãos do Conselho, A primeira tríade já possui um veredito? – Após alguns olhares. O dirigente novamente se comunicou com Arquia:
– O planeta que o irmão habita passa por grandes transformações. Há, sobre o planeta, uma grande e densa carga de negatividade. Especialmente em alguns continentes, o karma é ainda maior, e tudo que o grande governador planetário tem solicitado no momento é o desenvolvimento moral da humanidade, discernimento para escolher o caminho, confiança de saber qual é o melhor caminho, vontade em perseverar na escolha. Temos esperança de que um dia todos estejam na grande fraternidade cósmica do amor e sabedoria. Gaia, é como batizamos o exuberante planeta terra, está saturada pela degradação e contaminação. Todo planeta tem um ciclo, assim como a vida Nascer, vive, e se transforma. O que está ocorrendo é fato isolado a tudo que lhe revelei. O ministério os ajudará a consertar parte da bagunça que o desorientado Miso fez ao libertar o perverso Sifer. Tudo tem o tempo certo. Quando o momento chegar, ajudaremos cumprindo com nosso propósito de auxílio. 
A essência de Arquia voltou ao corpo, que flutuou lentamente até seus pés tocarem o chão. Faltando-lhe as forças para ficar de pé, caiu desfalecido, com dificuldades de respirar. Arquia se viu, nas formas que havia invocado nascimento e morte, masculino e feminino, e naquele instante tornou-se o mais poderoso Mestre Elemental pelo seu ato de bondade, o sacrifício.  Caído ao chão e desacordado, teve uma revelação em forma de sonho: viu sobre um monte três cavaleiros templários com vestes de monges, e dois deles desciam em direção a Gaia; o primeiro monge foi ao encontro de Notus, posicionando suas mãos alguns centímetros sobre a cabeça do enfermo, que recebeu uma poção d’água em forma de pingos, que lentamente fez com que retomasse a consciência, mesmo fraco, as nuvens sobre Cracia se dissiparam lentamente. O primeiro monge templário, após sua missão, retornou ao monte, onde o terceiro monge o aguardava; enquanto o segundo monge templário se posicionou na encosta da montanha, onde os guerreiros de Asgard  lutavam desferindo golpes de espadas sobre as entidades terríveis que revidavam, lançando arpoes, e raízes do submundo capazes de aprisionar qualquer guerreiro, o monge ajoelhou-se retirando duas espadas cruzadas que carregava nas costas. Ele as girou no ar, fincando-as na encosta da montanha, provocando raios de luzes que se expandiram pelo céu e através das raízes da encosta que gradativamente ressecaram  atravessando Malkuth, até chegarem a profundeza  do abismo do reino das névoas. Obrigando os exércitos dos perversos a retornarem, às profundezas do vale. Na encosta as nuvens davam lugar à luz; os guerreiros de Asgard aguardavam o restabelecimento total da barreira de proteção da montanha. Até que o sol despontou novamente e permitiu      os guerreiros de Asgard se retiraram em fileiras, subindo em direção ao terceiro anel da montanha, enquanto os três monges templários do sonho de Arquia reunidos retornaram ao céu.  O céu do reino de Malkuth deu lugar a luz!
Acro com a chegada do bom tempo foi ao templo de Maltwood, em busca de Arquia. Entrando no salão do oráculo, encontrou o ancião desfalecido e correu para socorrê-lo:
– Mestre! Mestre! Acorde!
Arquia abriu os olhos:
– Ajude-me! Quero ver o tempo!
Acro apoiou o ancião, levando-o à porta do templo central. Arquia fitou fascinado o dia maravilhoso, e agradecido pelo fato do universo ter atendido suas suplica. As  pernas de Arquia perderam as forças, e Acro o sustentou até sentar ao chão.
Enquanto isso, em Silbury, Taranis, vendo o retorno do sol, saiu com Sam e Elion em direção a praça, onde se aglomeravam alguns elementais curiosos. Sam assim que chegou a praça avistou de longe, frente à porta de Maltwood, Arquia caído ao chão  amparado pelos braços de Acro. Ela correu, em direção do velho amigo enfraquecido: 
– Mestre!
Acro não continha as lágrimas:
– O mestre está transmutando, pequena Sam.
Sem mesmo compreender o significado da palavra transmutar, a comoção invadiu-lhe o coração, e lágrimas rolaram em seu rosto. Ela segurou as mãos do mestre e, sem saber, começou a magia da vida. Sete cores saíam de suas pequenas mãos. As cores se intensificaram irradiando um arco-íris, sobre Arquia, não havia como explicar a dimensão do amor que Sam possuía por aquele novo, mas tão velho amigo. Segundos depois, Arquia ainda fraco, balbuciou:
– Quem disse que vou transmutar? Vamos, me coloque de pé, Acro! – Todos, ouvindo aquelas palavras, ficaram felizes.
Um redemoinho aproximou-se rapidamente da cidade, levantando folhas e poeira das ruas, fixando-se na praça meio a multidão. Arquia, amparado pelo professor Acro, em frente ao templo de Maltwood, observou o vendaval cessar, materializando-se em Faliha, amparado por Deleon e Nazih, exaustos de sua missão. Nazih aproximou-se de Arquia e estendeu as mãos:
– Mestre, o pentagrama! Quanto aos fugitivos. Eles conseguiram atravessar o portal. –Explicou Nazih insatisfeito.
– Vamos ao salão! – Proferiu Arquia enfraquecido, apoiando-se em Acro.
 Eles entram no templo de Maltwood, já no salão principal. Arquia deixou o apoio de Acro e firmando-se no cajado ficou de frente para o oráculo. Colocou o pentagrama junto aos planetas suspensos, o que ocasionou o realinhamento dos planetas sobre o oráculo. Arquia, então, sentou-se na cadeira e cansado disse:
– Minha felicidade será completa. Quando Sifer estiver novamente dentro da prisão do nada! Do Circulum, sempre acreditei que Miso retornaria a seu lugar de origem, e jamais acreditei que fosse tao longe em suas maldades. A insistência e a perseverança em errar só retardam o retorno da consciência, e não nos deixa outra escolha senão neutralizá-lo quando necessário e prosseguir deixando-o para trás!
Arquia estendeu a mão para a menina:
– Sam, venha!
Sam prontamente se aproximou,  ele  a colocou no colo:
– Gostou de Cracia?
A menina fez que sim com a cabeça, e o abraçou.
Arquia continuou:
– Agora é hora de dormir novamente pequena Sam. Estarei sempre em seus sonhos, basta pensar em mim.
Beijou-a na testa, ela adormeceu em seu colo, e sua essência foi desaparecendo aos poucos.  O ancião a olhava como momento único, e continuou:
– Retorne para seu outro lar!
Enquanto isso na floresta do suspiro Holls, que sempre sabia de tudo, começou a preparar a maior festança, convidando todos os Elementais do reino de Malkuth.
Sam, acordou , abriu os olhos e se espreguiçou. Percebeu que estava em sua cama, em seu quarto, em sua casa. Olhou para o lado, viu que lá estava sua avó, cochilando, sentada na poltrona. Sam feliz levantou pé por pé, deu um beijinho em vovó Clara e foi em direção à janela. Passou diante de um espelho, no qual se viu, achando-se crescida, e não mais aquela menininha de sete anos. Isso a surpreendeu. Olhando-se novamente no espelho, viu o cordão que ganhou do gnomo Ghoby. Colocou a mão sobre ele e abriu um sorriso, compreendendo que não havia somente sonhado. Andou em direção à janela, fitou os montes de onde vinha o barulho de uma grande festa. Sam, parou frente à janela, fechou os olhos e dançou. Era como se sua essência estivesse na festa que Holls preparou para os reinos vizinhos. Sam enxergou Himalia conversando junto a seus amigos Arquia e Taranis, Elion e Gob próximos à fogueira... Eles a viram, e acenaram.



  Voce pensa que essa historia terminou...Ela continua;

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